JESUS CRISTO SUPERSTAR
O que é o mundo? Pergunta o filósofo. O que é a sociedade? Pergunta o sociólogo. O que é a vida? Pergunta o biólogo. O que é o homem? Pergunta o antropólogo. O que é a verdade pergunta o religioso? O que é tudo isso junto? Pergunta o cronista.
A observação do mundo dará a resposta, ou não? Observo e observo o mundo e não tenho respostas. Pelo menos alguma que satisfaça plenamente. Pergunto a todos esses profissionais o que é tudo isso e a resposta é um fragmento da realidade. Nada de definitivo, nada de acabado, de certo. Será isso bom?
Essa eterna interrogação na cabeça dos homens, carentes de respostas, ansiosos por resoluções. Ao olhar o mundo, meu olhar capta apenas uma parte pequena, aliás pequeníssima de sua magnitude. Quem dera pudesse abrir meus olhos e ver respondidas algumas questões simples.
Olho o mundo e retiro deste minhas impressões, se te agradam ou não caro leitor, não me importo. A simpatia não é uma de minhas virtudes. Penso que agradar aos outros traz grandes prejuízos a mim mesmo. É como se eu fosse um ente despersonalizado.
O cronista olha o mundo, e de um palito de fósforo caído no chão ele retira sua crônica. De uma careta vista no metrô ele tira seu escrito. Do seu espanto com o mundo moderno ele retira suas conclusões.
Mundo moderno. Esse nosso mundo de hoje, hoje mesmo, 02 de maio de 2009, é dos mais estranhos. Sim, é estranho para quem o questiona e busca algum sentido, algum significado em suas mutações que hoje são instantâneas. Aquele que não vê problema no mundo, que não o problematiza, acomoda-se a este. Para ele tudo ocorre dentro da normalidade. O mundo é o que é e não cabe questões que não resolverão nada. De sua perspectiva está certo.
Nesse nosso mundo moderno, um esportista é lembrado depois de 15 anos de sua morte. Era ele um herói? O que trouxe de bom efetivamente? Será que projetávamos nele nossas aspirações por vitórias, por sermos um país de anões? Será que por termos uma cultura tão fragmentada e fraca fazemos apologia a alguém que projetava nosso país a um patamar superior?
Nosso herói foi transformado em camiseta, revista em quadrinhos, boné, adesivo, doces, institutos e afinal o que não é transformado em produto em nossos tempos? Até mesmo Jesus Cristo hoje é produto. Sim, o rei dos reis, o salvador do mundo, o filho do homem, o leão da tribo de judá, o messias, e quantos mais adjetivos de magnitude que encontrarmos para ele, que hoje não passa de produto de loja de shopping center.
Fiquei estarrecido ao sentar de frente a uma loja no Shopping Center Norte aqui em São Paulo e ver uma loja dedicada somente a produtos evangélicos. Pensei comigo logo de cara, Jesus definitivamente virou produto.
A loja tinha apelo jovem, é claro. Camisetas pretas com versículos bíblicos, mochilas com o nome de Jesus, fotos com bandas gospel, guitarras e tudo aquilo que atrai a mocidade. Jesus por si só, um judeu obscuro de quem não se tem nenhum relato histórico não atrairia se não possuísse todo esse envoltório capitalista, americanizado. Não é à toa o fracasso católico.
Sem o rock'n roll Jesus fica sem graça. Somente sua doutrina esdrúxula, que diz que um homem deve oferecer a outra face quando o outro bater, não cativa muito. Aliás, não vi em nenhuma camiseta este tipo de frase. Aquelas coisas pouco agradáveis que Jesus fala nos evangelhos que , por exemplo, separará a o joio do trigo, e este joio será jogado no fogo do inferno onde os vermes nunca param de roer.
Aquele versículo que está no apocalipse e diz que todos os mentirosos, os viciados, os homossexuais, os assassinos, os devassos serão enviados direto para a fornalha eterna, também não consegui ver em nenhuma camiseta. E olha que procurei bastante.
Minha filha tomava sorvete ao meu lado. É. Dei para ele aquela bomba atômica de gordura produzida pelo Mc Donald's, cheia de açúcar, que provavelmente supriria minhas necessidades calóricas durante dois dias. Ela quis, vou fazer o quê?
Mas ao olhar o sorvete do Mac e as camisas de Jesus Cristo na vitrine da loja gospel não tive dúvida. Trata-se de dois produtos. A diferença é que um é alimentício o outro é “espiritual”. A semelhança é que ambos são uma porcaria.
E essa coisa de perguntar, de questionar, realmente nos traz apenas aflições e não respostas. Conformemo-nos com o mundo tal qual ele se nos apresenta aos olhos. Se até Jesus Cristo foi tornado produto o que vamos esperar para nós que não ressuscitamos?
Certa vez um amigo meu, coreano, disse-me que é normal acostumarmos com as desgraças e incongruências da vida. Disse ele assim:
- Meu, se você tomar um choque de dez mil volts toda vez que ver alguém assassinado nessa terra, você não vive. A tendência é cada vez mais irmos nos anestesiando, para aguentarmos esse absurdo da vida.
Não é que o amigo tem razão. A banalização de tudo que existe já tem bastante tempo. Não sei por que ainda fico admirado com esse tipo de coisa. Se milhares de pessoas passam em frente a uma loja que vende Jesus Cristo e para elas está tudo bem por que eu vou ficar surpreso?
É que apesar de não crer esperava que aqueles que creem fossem um pouco mais sérios.
Ingenuidade minha.