Heroísmo Brasileiro - Ayrton.
Heroísmo Brasileiro
– Ayrton.
Lembro-me como se fosse hoje do fatídico dia; onde muitas pessoas do Brasil, as quais sentavam-se pacientemente para assistir nos seus aparelhos de televisão – Ou nos de seus vizinhos – durante toda a manhã de domingo, com o único intento de ver a flâmula brasileira tremular unida aos seus apertadinhos corações, os quais plangiam mais ritimamente e unidamente, quando em vez de ver as suas telúricas e sofredoras vidas, podiam se acalmar e bradar para todo o mundo ouvir, a voz do gigante desperto, a voz da nação.
Em meio a estes dias, era eu ainda um pobre menino; não entendia direito o que se dava, meu pai, minha mãe, mainha, minha irmã, todos calmos e quietos, coisa difícil para uma família baiana; quando se começava uma corrida de carros. Eram eles estranhos, de formas pontiagudas, e com um ruído intenso característico, já conhecido meu pelo dia e hora passados; fitados os olhos de todos na tela, eu os vendo reunidos, d’antes pelos dias separados, ungia em meu pequenino coração um sentimento fraternal, cândido, terno, o qual me acalentava; ficava sentado no chão brincando com os meus próprios carrinhos, e vez por outra olhava para aquela caixa brilhante, para ver aqueles meninos grandes se divertindo com os seus carros ainda maiores.
Não os assistia, não os entendia, e sinceramente não os queria entender; conformava-me ver minha família unida, que vez por outra se alegrava, ou se resignava. Então, num destes dias já conhecidos meus, vi todos ali sentados no sofá, começando a ficar realmente tristes. Minha irmã começou a chorar enquanto calmamente mainha dizia que não, que ele não havia de morrer. Saímo-nos neste mesmo domingo; fomos com o velho fusquinha – O qual em muitas das minhas necessidades, nunca deixou-me na mão – e fomos abastecer no posto. Olhei com o frisar tíbio e tímido de criança sempre adoentada, pela pequenina janela do banco de trás e reparei na melancolia de todos os quais ali estavam. Meu pai sempre engraçado e lépido se mostrava soturno, não conversava com os frentistas como antes; perguntou-lhes somente se ele havia mesmo morrido, teve a resposta ainda mais tépida do bom amigo, Sim, sussurrou-lhe.
Retornando, a tristeza era geral. Ninguém nas ruas chorava. Mas os seus corações brasileirinhos sentiam-se como se houvessem deles tirado um pequenino carrara de vida; um ínfimo motivo de continuarem vivos e gritando o porquê de serem corações brasileiros. Deus privou-lhes do seu herói. Tirou-lhes para levá-lo a um lugar melhor, onde poderá ser, quem sabe, heróis d’outros atos heróicos.
Mas não pensem que meu comedimento de criança persiste. Não mais.
Sinto-me não patriota, mas vivo e esperançoso pelo levantar da nação, do acordar deste Gigante Impávido.
D’entre a historia brasileira muitos heróis, e muitas heroínas em maior numero, se sobrevieram na sua defesa. Falo de Joana Angélica, de Maria Quitéria, de Irmã Dulce. Falo dos grandes Santos Dummont e Rui Barbosa, e de outros e outras que minha memória pertinaz, por hora faz-me esquece-los – Por isso voz peço perdão.
Perdão a Joana Angélica, que em meio ao ataque português por sobre um convento, foi assassinada porque os impedia de entrar; perdão a Maria Quitéria, também na mesma guerra e vitória contra os portugueses, se veste de homem com o intento de defender a nação; perdão a todos os homens que lutando contra esquadras portuguesas, navios de guerra e em maior numero, eles, brasileiros em seus saveiros – Pequenos barcos costeiros – alem de os vencer, impediu o acesso da costa.
Sei que torno-me repetitivo e ademais redundante, mas ainda sim peço humilde perdão a Santos Dummont, que viu sua amada invenção sendo usada para guerra; sem contar a pusilânime tentativa dos Americanos de tentarem excluí-lo da gloria.
Perdão ao grande Rui Barbosa, cujo ainda em vida foi aclamado internacionalmente, em plena reunião da Liga das Nações – Atual ONU – como o sendo um grande homem.
À magnífica Irmã Dulce, sinto-me honrado por ter nascido donde nascestes, ser de extrema evolução, de inigualável caridade; a todos os outros, heróis desta nação
peço-vos perdão por mim e por ela, a qual de vós não recordais.
Devemos exortar estes e outros heróis, que doaram muitas vezes suas vidas pelo seu simples existir; do próprio Ayrton que já em vida, fundou o instituto para socorrer a população carente deste país.
Devemos relembrá-los não com patriotismos tolos e desnecessários, mas com honradez, com alegria, com o imenso jubilo de poder por mais uma bradar:
-Ayrton Senna, do Brasil!