Teus "47"

Teus “47”

Pepe não sabe a sorte que tem e, por isso, vive se lamentando. Seus amigos, em tom de gozação, o chamam de chorão. Pai de dois filhos exemplares, muito bem casado com uma tcheca de nascimento, austríaca de nacionalidade e brasileira de coração.

O brilho e o frescor daquela manhã de Maio estiveram comigo até que, percebendo o ambiente viciado pelas “fofocas de escritório” e pelas velhas e conhecidas bactérias introduzidas pelo ar condicionado, afastaram-se sem nem me desejarem, ao menos, boa sorte.

Mal acabo de chegar a minha sala de trabalho toca o telefone. Do outro lado da linha as lamúrias do Pepe.

Lamentava-se porque sua mulher completava quarenta e sete anos e gostaria de prestar-lhe um tributo nas mais variadas formas artísticas. Assim, com muita sensibilidade, falou meu amigo Pepe:

"meu amigo! No dia do Aniversário da esposa, quem não sente a frustração por não ser um grande escritor, artista, pintor ou compositor, para expressar com beleza toda ternura, que é com ela conviver"?

Como seria maravilhoso se pudéssemos pintar as cores dos olhos, seios, cabelos e as formas dos contornos de quem amamos.

Qual a esposa não ficaria feliz, se em vez de o marido, se pobre, dar-lhes coisas para casa e, se rico, o carro do ano ou aquela jóia de milhares de dólares, presentear-lhe com um curta metragem, ou uma pequena peça de teatro, na qual a personagem principal seria ela, a aniversariante?

Nesses momentos, como os dos aniversários, gostaria de ser um compositor e cantor, para poder dizer-lhe, com música, como são grandes a amizade, a ternura, o carinho e o meu bem-querer…

Percebi, não demorariam muito, lágrimas começariam a bailar pelo fio do telefone. Por outro lado, os recados e a papelada amontoavam-se sobre minha mesa de trabalho. Assim, resolvi cortar aquela cena de carpideira em dia de funeral, com o seguinte conselho:

“Pepe, meu amigo, é praticamente impossível ser tudo isso. O melhor que podemos fazer nessas situações é deixarmos de ilusões”…

Tua mulher te tem muito amor. Certamente, é da maneira como só tu sabes fazer, que ela vai querer ouvir, ver e sentir o que tens para celebrar os seus “47”. Até logo à noite, um abraço.

Como um raio, surgiu em minha mente a lembrança de que o aniversário de minha mulher, quarenta e sete, também, sempre aconteceu quatro dias após os festejos, para o aniversário da mulher de Pepe.

Apesar de um incômodo sentimento de apropriação indébita, desliguei o telefone direto, chamei a secretária e disse-lhe que não estaria para ninguém. Tranquei a porta da sala, sentei, afastei os recados e a papelada sobre a mesa e, baseado nas lamúrias do Pepe, escrevi “Rimas para Você”, para celebrar o aniversário, não da dele, mas de minha parceira.

“Rimas para Você” festejam os 47 anos da minha mulher inspiradas nas lamúrias do Pepe, que além de lembrar-me da data, que jamais podemos esquecer, forneceu-me o material para as rimas.

Rimas para Você

Eu queria ser

um grande escritor,

para, com a prosa,

te dizer o meu amor.

Eu queria ser

um grande artista,

para, com a arte,

te expressar meu bem-querer.

Eu queria ser

um grande pintor,

para, com a luz das cores

e a dança do pincel,

pintar o róseo dos teus seios,

dos teus lábios, a cor do mel,

o grisalho dos teus cabelos

e, dos teus olhos, o azul do céu.

Eu queria ser um

um bom compositor

para, com rimas sobre você,

criar uma canção de amor.

Como não sou nada disso,

contigo “pinto o sete”

e faço destas o meu riso,

para festejar os teus “quarenta e sete”

J Coelho
Enviado por J Coelho em 02/05/2009
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