SEXAGENÁRIO

Acabei de ler a coluna do Tostão no Jornal Estado de Minas. Sempre leio a coluna do Tostão! Hoje posso admirá-lo sem me esconder. Não era assim nos anos que ele tumultuou a minha alma atleticana. O meu Galo dos anos sessenta enfrentava o cruzeiro de frente, peito aberto, mas era muito difícil encarar aquele time do Tostão. Eu o admirava, às escondidas, pecado mais que inadmissível e que ainda hoje, assusta o meu coração atleticano. Como eu podia cometer tamanho pecado? Bem, hoje é diferente. Não falo mais do poeta da bola... Posso reconhecer de público o talentoso cronista que tem um malabarismo invejável com as palavras. Malabarismo que lembra o seu toque mágico na bola. Assim como era um artista nos gramados, é também um artista escriba. Mas porque faço essas reminiscências? Percebo que além do Tostão médico, como eu, temos a mesma idade, passamos, com certeza, pelos mesmos sofrimentos da nossa época e também pelas mesmas alegrias. Convivemos com Pelé, Garrincha, Didi, Chico Buarque, Vinícius, Jobim, Beatles, Elvis, Dr Zerbini, JK... Vimos o homem chegar à lua, testemunhamos a chegada da tomografia cerebral, ressonância nuclear magnética, cirurgia por vídeo laparoscopia... Vivemos na mesma época de Ariano Suassuna. Vimos Raul Cortez no teatro... Voltando ao que eu disse no início, acabo de ler o que o Tostão escreveu sobre ser sexagenário! Por conseqüência, percebo que também estou às portas da terceira idade. Dentro de dezesseis meses serei sexagenário. O que é isso? Tostão se diz mais sereno, mais tranqüilo, mais distraído e mais calmo. Já escreveu o livro, teve os filhos e um deles o estimulou a plantar uma árvore. Faço um exame de consciência, me auto critico e fico pensando se também chego à idade do meu herói de hoje e algoz de ontem, com a mesma altivez. Só fiz os filhos... Não plantei a árvore e não acho que serei capaz de escrever um livro. Se alguns capítulos de livros técnicos em medicina servirem... Esses eu já fiz! Sexagenário! Não me sinto tanto, embora já estejam tão longe as meninas em maiôs Catalina, o Zorro, o Rim Tim Tim, o Jerônimo (herói do sertão), os clássicos do Galo com o Botafogo (muito antes do Flamengo), o Ban lon, as calças de nycron, (não amassavam e nem perdiam o vinco)... É, realmente sou um sexagenário! Toca Luiz, a plantar a árvore e trate de escrever o livro. Saia deste marasmo sessentão preguiçoso!

Luiz Roberto
Enviado por Luiz Roberto em 02/05/2009
Código do texto: T1571351