OS PORCOS SÃO MAIS TRANSPARENTES QUE OS SERES HUMANOS
OS PORCOS SÃO MAIS TRANSPARENTES QUE OS SERES HUMANOS
Marília L. Paixão
Disseram que eu sonhei essa noite e que no sonho muito dizia e nada se entendia. Eu digo que essa noite eu nada sonhei até que veio a luz do dia. Pulei da cama junto com a coriza que escorria. Será que há algum espírito de porco em mim falando coisas que não devia? Por que às claras eu falo as que devo e refalo! Se não refalo para a pessoa refalo para o espelho. Bom! Se o tal espírito estava falando as que não devia deve ter falado das flores para as quais eu já não dou mais bom dia.
Fui lá ler sobre os porcos e descobri que estudos recentes de especialistas em psicologia e cognição animal dizem que eles são tão inteligentes e que sabem até o que se passa na cabeça dos outros porcos. Que são sensíveis e gostam até de música. Adoram desbravar o meio ambiente e se cumprimentam nariz-a-nariz. São autônomos, super sociáveis e afetivos. E quando se esbaldam na lama estão na verdade é se refrescando e se higienizando.
Agora vamos falar dos porcos humanos depois que assaltam um banco. Ficam lá contando o dinheiro sujo como se tivessem acabado de ganhar na loteria. Consegue visualizar a cena de um filme? Quantos filmes não é mesmo?! Mas nos filmes os ladrões são quase heróis. Você é apresentado aos personagens e aos seus dramas particulares e aquele assalto se torna a razão da vida deles e da trajetória do filme. Mocinhos e bandidos se misturam e você acaba se encaixando ao se quedar por um deles.
Mas falando de filmes me lembrei de outros seres que também viram uns verdadeiros porcos no filme Ensaio sobre a Cegueira. Um deprimente retrato da decadência humana. Fiquei até enojada!
Mas será por que ninguém se fantasia de porco no dia do Halloween? Por que as pessoas evitam se fantasiar do que elas realmente são? O ato de fantasiar-se é o de escolher uma máscara mais bonita ou uma que apavore a falta de sorte. Na hora de tentar esconder a lama em que vivem, vale tudo, até se fantasiar de super homem. Eu até já me fantasiei de bruxa, mas na vida real nunca consegui ou tentei ser. Você tem aí um chocolate?
Quando criança eu ajudava meu pai a catar as pedras do feijão para depois devolver para o saco para ele melhor conseguir vendê-lo. Com os 25 centavos que ele me dava eu comprava até batom de chocolate. Quando minha irmã caçula ajudava e atrapalhava e o serviço parecia o de um porco a gente só ganhava quinze e mais umas reclamações de que a pressa era inimiga da perfeição. Catar feijão era dia de aprender lição. Minha mãe nestes tempos ainda agüentava preparar um porco para fazer uma feijoada. Quem diria que um dia eu aprenderia a escrever sobre isso num país de bruxas malvadas. O jeito então é eu me fantasiar de anjo. Pois apesar dos pesares, eu te amo.