Fogarinas

No creptar do fogo, com meus olhos fechados, sinto a fogueira brilhar no escuro aparente do meu eu dentro; no queimar da brasa ardente, sinto o calor da fogueira esquentar o claro aparente do meu eu fora.

Estou consciente, plenamente consciente, trabalhando porta por porta, limpando as janelas da minha casa, pois terei visita importante: sinto que a Mãe Divina está prestes a chegar.

O fogo mantém a meditação atuante, enquanto abro a porta básica e deixo o vermelho entrar; o fogo fica cada vez mais crepitante, enquanto trabalho a porta da criatividade e deixo o laranja trabalhar; o fogo já me envolve, quando acordo a porta solar com bijas e canções de despertar; porém antes que eu chegue na porta do peito, as janelas da alma se abrem e vejo as dançarinas do fogo se apresentarem.

São as Salamandras, minhas queridas Fogarinas, as labaredas da transformação chegando, guerreiras brilhantes com espadas na mão que dançam a canção das chamas. Observo-as dançando como criança que vai ao circo pela primeira vez. Tudo é mágico, tudo é tão bonito, que sinto vontade de abrir os olhos e ver se realmente estou vendo aquilo...

Abro os olhos... e a meditação se encerra.

- Estraguei tudo - digo ao fogo, mas as Salamandras ainda estão lá, não é alucinação, estou vendo agora com os olhos abertos as elementais do fogo dançando, seres que sempre achei serem parte do folclore "esotérico". Não, elas são reais e se apresentam no palco das minhas sete portas.

Fecho novamente os olhos, e subo para as portas superiores, a porta da comunicação quer cantar, a porta da visão revela que as Fogarinas sempre estiveram por lá.

Não sei quanto tempo demorou a dança das guerreiras do fogo, mas meu peito tá novo, minhas asas estão mais fortes e meu vôo cada vez mais alto, mesmo estando com os pés firmes aqui em baixo.