SAUDADE, TIRO QUE DESPEDAÇA POR DENTRO

Aconteceu. Pronto, aconteceu. E o que eu senti foi o despedaçar por dentro, conseqüência de um tiro de misericórdia advindo de um sentimento chamado SAUDADE. E eu já nem sei ao certo se de fato existia mais alguma coisa dentro de mim para que esse sentimento destruísse, se até o meu pensamento ele tolhe, não me permitindo nada fazer, há não ser pensar em você, desde o amanhecer até a hora de dormir. Mas o que adiantaria ter o meu pensamento livre sem você? Com ele livre o que eu buscaria, felicidade? Como? Se “ela está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos?” (Vicente de Carvalho)

Responda-me: por que na condição de seres conscientes, livres que somos e responsáveis, não partimos para o dialógo, não sabe você – e ai me desculpe, mas vou parodiar o filosófo frances Merleau–Ponty e dizer – que na experiência do diálogo se constituiria entre mim e você um terreno comum, meu pensamento e o seu formariam um só tecido, minhas falas e as suas seriam invocadas pela interlocução, inserindo-se numa operação comum da qual nenhum de nós é o criador. Eu e você seriamos colaboradores, numa reciprocidade perfeita, coexistiríamos no mesmo mundo e se arrancares de mim pensamentos que eu não sabia possuir, de tal modo que os empresto e em troca você me faz pensar. Por favor não me deixe falando sozinha, preciso desse diálogo, preciso fazer dele um episódio de minha vida privada solitária , não me faça senti-lo como uma ameaça pois sem você desaparece a reciprocidade que nos relacionava tanto na concordância como na discordância . Não sabe você que a vida é intersubjetividade corporal e psíquica, é reciprocidade entre pessoas e que a amizade é a virtude proeminente, a expressão do mais alto ideal?

Agora, indago: depois de tudo o que eu lhe disse, volta pra mim por inteiro?

PS: meus agradecimentos à Marilena Chauí (Convite à Filosofia), que me ajudou na elaboração deste texto.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 30/04/2009
Reeditado em 30/04/2009
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