Olha, eu não tive nenhuma culpa, ao contrário, eu tentei salvá-lo de todas as maneiras que encontrei. Falhou. Médicos falham, advogados falham, pilotos falham, até as mães falham! Porque eu, uma criança de 10 anos, não podia falhar?
Eu o deixei quieto, numa caixinha, em cima da minha escrivaninha. Liguei a luz e fui brincar. De repente ouvi a gritaria. Corri para ver o que estava acontecendo. A moça que trabalhava na minha casa correu desesperada pra salvar o pinto, pois meu irmão, de 4 anos, tinha colocado na piscina achando que era pato e nadaria. O pobre do pinto quase se afoga, não fosse a rapidez da moça.
Eu corri e quando olhei a cena comecei a chorar. O pinto na mão dela, todo ensopado! Uma desgraça! Fiquei indignada. Não briguei com meu irmão, claro, era muito pequeno, mas peguei peguei o dito cujo e coloquei ao sol.
As perninhas não resistiam e ele ficava arriando. Dava dó.
Lembrei que minha avó gostava de tomar muita aspirina. Pra tudo ela tomava aspirina. Dor de cabeça, dos nos ossos, dor de dente, tudo que era dor.
Fui então no quarto da minha mãe e peguei uma na caixa de remédios.
Pronto, o pinto estava salvo! Aos poucos fui colocando no bico (mas entrava muito pouco), eu segurava e empurrava a aspirina. Quando empurrava, ele cambaleava, tremia e fechava mais os olhinhos. Achei que tava tudo resolvido, era só esperar o efeito e ficaria bom. O coloquei embaixo da luz da escrivaninha, dentro de uma caixa, e voltei para brincar. Quando voltasse, certamente estaria todo serelepe outra vez.
Mas não! Ao voltar, olhei ansiosa para a caixa.Para minha tristeza ele estava lá, durinho. Mortinho da Silva. Chorei desesperada.
Era mentira, aspirina não curava nada, ao contrário, tinha matado meu pinto!
Quando minha mãe chegou estava o drama. O rapaz que ajeitava o jardim com a pá, fazendo o enterro e eu chorando com o culpado do crime ao meu lado.
Ela consolou dizendo que eu ia ganhar outro. Mas eu curti, curti o luto pelo pintinho. O pintinho que não consegui salvar. Meu primeiro sentimento de perda.
Tenho certeza que todos vocês já tiveram um pinto. Que ganhou num aniversário, na escola, numa exposição de animais, etc. Queria saber como os mataram (porque nunca eles chegam a sobreviver, rsrs).
Às vezes esquecemos como morreram, mas morreram. Meu filho atropelou um com um patinete (tragédia grega), uma amiga simplesmente apertou tanto o "fofinho" que esfolou o pobre coitado. Minha irmã deixou solto no quintal e o gato abocanhou.
E você, como matou o seu pinto????