O PALÁCIO DA PENA - Segunda parte
Com uma paisagem dominada por árvores, arbustos, rochas, muralhas curtidas pelos séculos e fragmentos do passado espalhados ao longo de toda sua extensão, o Castelo dos Mouros oferece uma visão privilegiada da costa em derredor e da serra de Sintra. A função dele, ao ser construído no século IX, era proteger Lisboa e demais vilas ao seu redor. Após quase 1.200 anos de tantos acontecimentos históricos acumulados, de conquistas e reconquistas, em 1995 a UNESCO classificou a Serra de Sinta, onde está localizado o Castelo, como Paisagem Cultural-Patrimônio da Humanidade(esses dados copiei do mapa com informações turísticas a respeito). É certo que vale a pena subir suas escadarias de pedra e atingir o ponto mais alto chamado Alcáçova, que foi a residência do Alcaide durante o período mulçumano. Se cada compartimento daquele castelo pudesse detalhar os acontecimentos ali registrados certamente ficaríamos estupefatos e embasbacados, porque é bom lembrar que ele foi habitado por seres humanos com defeitos e virtudes a exemplo de todos nós.
O Palácio da Pena, nossa próxima e mais importante visita daquele dia, magnífico na sua imponência, podia ser visto lá do alto do Castelo dos Mouros. Era para aquele monumento de luxo e beleza que nos dirigíamos ao sair do Castelo dos Mouros depois de uma descida tão estafante quanto a própria subida. Mórbidos pingos de chuva ainda persistiam caindo das nuvens enegrecidas e um nevoeiro espesso acinzentava a paisagem. Levamos em torno de dez minutos para completar a descida acidentada e tosca, sem muito a lembrar daquele castelo senão suas ruínas e os ruídos surdos dos fantasmas que fizeram sua história.
Foram mais trezentos metros de subida sinuosa sobre o asfalto molhado e um tanto escorregadio. Por nós passavam, com esforço supremo, aqueles pilotando as bicicletas ladeira acima, os carros, ônibus e grande quantidade de pessoas que preferiam subir a pé até o local onde estava localizado o Palácio da Pena. Um denso matagal vestia a serra e proporcionava ar puro, absorvendo o gás carbônico de nossa respiração e dos motores indo e vindo. Não compreendi por que um enorme cão assustador repousava tranquilo no meio do caminho, sem ninguém para dominá-lo caso ele resolvesse atacar algum transeunte. Ana ficou tão atemorizada com a presença do animal que pensou em desistir de visitar o palácio, mas consegui dissuadí-la desse propósito fazendo-a ver quantas pessoas já haviam circulado por ele sem nenhum problema. Ela virou o rosto para o lado, temendo encarar o bicho, ao contornar seu espaço.
Um portão de ferro de grandes proporções delimitava os domínios do palácio, guardado por um homem sisudo, fardado, cuja função era receber as entradas, perfurá-las e permitir, carrancudo, a entrada dos visitantes. À direita, despontava a indefectível lojinha de souvenirs que também vendia água mineral e pequenos lanches(por preços astronômicos, claro, e em euro), à esquerda, as casas de banho(toaletes). Logo a seguir, à nossa frente, majestoso, revestido de toda pompa e imponência inerentes às residências reais, finalmente, avistamos o Palácio da Pena. Apesar da chuvinha triste e molhadeira e do nevoeiro borrando a paisagem havia muita gente visitando o palácio, entrando e saindo, tirando fotos. Vimos a fila lenta que se dirigia para uma portinhola estreita severamente vigiada por três pessoas. Estas, sempre a estampar no rosto a exagerada carranca de professores pajeando crianças do primário, só permitiam a entrada a passos de lesma de uma pessoa por vez. Não demos muita atenção ao local, queríamos explorar outros ambientes, outras surpresas. Mas aquela, sem dúvida, escondia a melhor e mais impressionante de todas. Descobriríamos isso mais tarde.