Visitando o Himalaia

Um sujeito, que pode muito bem ser parente de qualquer pessoa normal, vai passear no Himalaia, lá pros lados do Tibet.

Um lugar hostil, onde as pessoas sequer falam o chinês, e sim o mandarim, que é um dialeto quase extinto.

Os monges de lá, só comem folhinhas de bambu!

Mas, se os pandas sobrevivem e engordam, pra mim tanto faz!

Usar uma minhoca pra pescar é uma ofensa, pois ela pode ser a reencarnação da sua avó, ou da mãe de alguém, tios e tias, enfim, lá se podem comer cérebros de macaco, mas matar minhoca não pode!

E é pra um lugar desses que o cara vai!

Mas o cara tem dinheiro pra gastar e quer conhecer o lugar.

Uma pessoa não visitou o Himalaia se não escalar o Monte (e bota monte nisso), Everest.

Com 8.844,43m de altura em rochas, 8.848 m se considerar a camada de gelo.

Mas, o cara quer ir lá! E ele tem opções de rota de subida.

Ou sobe pelo lado do Nepal, ou pelo lado do Tibet, ou o que vier primeiro. Pra mim tanto faz!

Mas se fosse eu, preferia ir pelo lado que não pode comer minhocas! Que nojo! Antes isso que o lado que pode!!!

Primeira pergunta, sem resposta plausível: “Para quê?” Só pra fincar a bandeirinha brasileira lá em cima, onde ninguém pode ver nada, nem mesmo se estiver lá?

O vento e o frio ofuscam a visão de qualquer um.

Ademais a bandeira brasileira pode muito bem ser vista, com nitidez, no mastro do Palácio do Planalto, a apenas uns 5 metros do chão, e quase ninguém liga pra isso!!!

Pra conseguir tal feito, o cara junta mais três amigos, só dois vão sobreviver, e ele nem sabe se é um dos dois!

Fazem uma vaquinha milionária para cobrir todas as despesas da aventura. Mais parece um rebanho, a contar pelas despesas.

São necessários dois guias (para o caso de um rolar morro abaixo e morrer!), a U$l.000,00/dia cada guia.

Visto que os primeiros 2.300 metros da subida são percorridos de mula, necessitam de contratar tocadores de mula a U$ 500,00/dia, com mulas a U$100,00 por dia/mula (a mula ganha mais que eu!).

São duas mulas pros guias;

quatro pra eles;

duas pras provisões;

duas pros equipamentos de camping especiais pra vento, neve e muito gelo;

duas pros tocadores de mulas (que também são cobradas por dia, à parte);

duas pros equipamentos de filmagem;

uma pros medicamentos;

duas pros equipamentos de alpinismo;

e, três mulas vão vazias, de reserva e recebendo.

São então, 20 mulas (...e quatro bestas) gerando um total de U$ 5.000,00 de despesas ao dia, perceba que as mulas são treinadas pra andar bem devagarinho, pra demorar uns 4 dias pra subir os primeiros 2 km da montanha.

Mas o cara não desiste!

Ele quer ir ao ponto mais alto do planeta.

E vai subindo a montanha, com a bunda doendo sobre a mula, mas muito feliz!

Já no segundo dia começa a aparecer problemas.

A barraca 1 não cabe de volta na sacola 3.

Tem 2 mulas que sempre empacam pela manhã.

Tem mula que se recusa a passar sobre as incontáveis pinguelinhas sobre os córregos que são ‘’o que que é isso de pedras”!

Já tem patê estragando, apesar do frio.

Começa-se a se lembrar de Coisas que faltaram!

A roupa incomoda.

Os caras só falam chinês, debocham dos panacas e ninguém entende nada.

Não tem uma lojinha de conveniência, nem farmácia, aliás, nem caminho tem, os caras nem sabem pra onde estão indo!

O celular não pega mais!

O ouk-tok só faz chiado.

O Notbook terminou a carga e não ia adiantar nada ter carga, pois nessas alturas nem conecta mais com o satélite mesmo.

Não dá antena em nada!

Alguém perde um rolo de cordas, mas não tem problema, os dois mais magros vão amarrados juntos, e é aí que mora o perigo.

Finalmente chegam ao ponto em que as mulas não vão mais e a subida agora é feita á pé, com aquelas botas com prego na sola.

Ah! A carga vai às costas.

Com a mochila, cobertores, etc. eles ficam parecendo pequenos edifícios com pernas subindo a montanha.

Felizes!

Um pouco cansados é verdade, mas felizes...

No sexto dia, 6000m subidos, estão congelando, dois já não sentem as pernas, ou perderam algum dedo dos pés.

As bocas racharam, a meleca do nariz congelou. Inclusive as lágrimas congelam.

A comida tá acabando, ou alguém ta comendo demais, ou erraram na conta.

A água terminou ontem.

E não se iludam, sob baixas temperaturas o corpo exige muito mais água.

Mas eles estão lá, felizes!

Filmando tudo, até no celular.

Tiram fotos de tigres siberianos, que os seguem com o fino propósito da refeição fácil.

Em casa os caras apanham até da mulher, na montanha não tem medo nem de tigre! O que será que eles acham que vão poder contra dois tigres famintos?

Um já não urina mais, infecção por falta de banho. Dois estão ressecados de tanto comer enlatados e bolacha de água-e-sal com patê (o congelamento impede a implosão das bolachinhas).

Finalmente, lá pelo 9º dia chegam ao cume.

O ar rarefeito lhes rouba os sentidos e eles nem podem observar a paisagem congelada.

Se o cara tivesse assistido aos vídeos de estúpidos predecessores em casa, teria aproveitado todo o visual.

Lá precisa tapar a boca pra não respirar ar gelado que congelaria os pulmões, então aspiram constantemente aquele fedor de hálito, pois só no primeiro dia gastaram metade da água escovando os dentes, agora não têm nem para beber.

Precisam ficar de óculos escuros, para não ficarem cegos diante da brancura da neve, e lá, pasmem, o sol é ‘’escaldante’’, em luz, não em calor.

Em algum lugar lá em cima estão os caras e a bandeirinha fincada. Olhe bem e verá!!!

Juntos, os quatro patetas fincam a bandeirinha em qualquer lugar e DESCEM, tropeçando, martelando o dedo na hora de prender as cordas, comendo muito menos do que na subida.

Dois que estavam amarrados juntos, despencam.

Um desaparece numa fenda no gelo.

Lembrei dos tigres!

O outro é encontrado sem vida, no 4º dia da descida, pode ser que tenha morrido de fome, não tinha os dedos das mãos, ou foram os tigres, que desapareceram com o que sumiu...

Morreram, mas foi em nome do Brasil, no Himalaia, escalando o Everest.

Irônico, não?

Depois de perderem os equipamentos de filmagens e estragarem quase que completamente seus celulares tentando salvar os dois que caíram, esta foi a única imagem colhida do celular de uma excursão vizinha.

O que, em nome de Deus, leva um sujeito a fazer uma coisa dessas?

Bem, de qualquer forma vão falar bem deles no Jornal Nacional;

o Domingo Espetacular dedicará todo seu último bloco a eles e finalmente, o grande Paulo Henrique Amorin, repórter da Recorrrd dirá:

“Boa Noite! E Boa Sorrrrte!”

“Pensar engraçado é uma questão de QI.

Quanto + Idiota, mais engraçado”.