A saga de Susan Boyle no programa de calouros
Muito tem se falado sobre as imagens da escocesa Susan Boyle que enfrentou e venceu um trio de arrogantes jurados num programa de calouros da TV inglesa. Acho que é possível encontrar uma explicação do porquê daquele vídeo ter se tornado um fenônemo. As pessoas se detêm diante de algo que as faça lembrar de valores que perderam ou já não cultivam mais numa carência coletiva de sentimentos que deveriam ser comuns.
Aquela mulher, do alto dos seus quarenta e sete anos, parece ter feito algo muito maior do que simplesmente ter cantado uma canção, algo que provavelmente não tinha a mínima noção de que poderia fazer. Aquela mulher desajeitada, de roupas simples e mal arranjadas diante de jurados bem vestidos e alinhados, entre eles uma loura de beleza radiante, como um guerreiro de escudo e espada na mão aceitou bem (mais que bem, eu diria) o papel que a circunstância havia lhe colocado nas mãos. O papel de quem acredita em si mesmo.
Acreditar em si mesmo é cada vez mais difícil no mundo de hoje. Ali naquele palco de calouros ficou espetacularmente claro que a aparência física desprivilegiada deveria enfrentar os retoques de maquiagem e produção, que a ingenuidade deveria enfrentar a zombaria, a melancolia de uma canção antiga sobre tempos difíceis deveria enfrentar o sarcasmo da cultura pós-moderna que parece ter tomado conta da mídia de uma forma mais avassaladora nos últimos tempos - basta olhar para programas como CQC, Pânico, Big Brothers, realitys da MTV e outros para constatar isso - e assim ela se fez guerreira e não apenas derrotou o inimigo como o converteu (pelo menos ali naquele momento). Ela os fez derramarem lágrimas.
É pena que daqui a alguns dias não ouviremos mais falar daquela pequena escocesa, provavelmente nem lhe darão a chance que ela tanto quer, a de cantar profissionalmente. Mas pelo menos por um breve instante ela nos fez ter esperança de que é possível mudar o mundo.