28 de abril, Dia da Educação
Mais do que ninguém, sei por minhas próprias vivências que os processos educativos acontecem todos os dias, em todo e qualquer espaço que se propõe a ser educativo, mas, como data simbólica, não vou desperdiçar o momento de ratificar a importância do papel da educação na minha vida.
Desde o último dia 22, educadores de todas as regiões estão envolvidos nas atividades da Semana de Ação Mundial LER E ESCREVER O MUNDO, coordenada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Tenho, na medida do possível, colaborado com esse debate participando de atividades, discutindo com professores, gestores, alunos e demais membros da comunidade escolar, algumas questões do universo da Educação de Jovens e Adultos, com especial destaque para a alfabetização.
O debate é mais amplo porque toma como base a Conferência Nacional de Educação (CONAE), a ser realizada em Brasília, em abril de 2010. Na região Nordeste, as reflexões advindas do eixo III Democratização do Acesso, Permanência e Sucesso Escolar, demonstra a necessidade da participação de todos para mudar o quadro da exclusão e do abandono na Educação, visto que é aqui, nesta região, que contabilizamos os piores índices, os indicadores mais perversos
Hoje, 28 de abril, dia da Educação, foi um dia dedicado a reflexões inerentes a esta imensa tarefa da humanidade. Logo cedo, o educador, músico e colega de trabalho Tércio Smith e eu estivemos “fazendo arte” na acolhida a estudantes, educadores das redes de Educação Básica e da Universidade Federal de Alagoas, na realização da Semana de Pedagogia 2009.Ele abrilhantou o dia com música e performance e eu li um poema.
No próximo dia 30, estarei numa mesa painel sobre a CONAE, fazendo um recorte com relação a compreensão da UNIÃO NACIONAL DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO(UNCME) e o papel desses conselhos na construção de um Sistema Nacional Articulado de Educação. Meus companheiros de mesa serão a professora Girlene Lázaro(SINTEAL), a professora Gorete Amorim (CEE-AL), a professora Irailde Correia (UFAL) e o professor Neilton Nunes(SEE-AL), cada um destacando aspectos da CONAE a partir de suas instituições, que têm a tarefa da organização das conferências municipais e da Conferência Estadual da Educação.
Hoje, ao ler o poema, lembrei a todos que me ouviam que a luta de cada ser humano que habita este planeta deve ser pela garantia do direito de que todos LEIAM E ESCREVAM O MUNDO. Deve ser principalmente, a luta dos que como eu, sabem a importância e a alegria de poder usufruir de todas as maravilhas produzidas pela humanidade e descritas em cada leitura que faço. Partilho com vocês o poema.
Canção para os fonemas da alegria
Peço licença para algumas coisas.
Primeiramente para desfraldar
este canto de amor publicamente.
Sucede que só sei dizer amor
quando reparto o ramo azul de estrelas
que em meu peito floresce de menino.
Peço licença para soletrar,
no alfabeto do sol pernambucano,
a palavra ti-jo-lo, por exemplo,
e poder ver que dentro dela vivem
paredes, aconchegos e janelas,
e descobrir que todos os fonemas
são mágicos sinais que vão-se abrindo
constelação de girassóis gerando
em círculos de amor que de repente
estalam como flor no chão da casa.
Às vezes nem há casa, é só o chão.
Mas sobre o chão quem reina agora é um homem
diferente, que acaba de nascer:
porque unindo pedaços de palavras
aos poucos vai unindo argila e orvalho,
tristeza e pão, cambão e beija-flor,
e acaba por unir a própria vida
no seu peito partida e repartida
quando afinal descobre num clarão
que o mundo é seu também, que o seu trabalho
não é a pena que paga por ser homem,
mas um modo de amar – e de ajudar
o mundo a ser melhor.
Peço licençapara avisar que,
ao gosto de Jesus,
este homem renascido é um homem novo:
ele atravessa os campos espalhando
a boa nova, e chama os companheiros
a pelejar no limpo, fronte a fronte,
contra o bicho de quatrocentos anos,
mas cujo fel espesso não resiste
a quarenta horas de total ternura.
Peço licença para terminar
soletrando a canção de rebeldia
que existe nos fonemas da alegria:
canção de amor geral que eu vi crescer
nos olhos do homem que aprendeu a ler.
Poema de Thiago de Mello, escrito em Santiago do Chile, em 1964 e publicado em Faz escuro mas eu Canto – Porque a Manhã vai chegar.
Ed. Civilização Brasileira, Rio, 1965