Feminino Onipresente
Amo desafios, e quando os tenho procuro senti-los, respirá-los, conquistá-los... É a vida. Depois da conquista, não os guardo na gaveta, como se fossem medalhas velhas. Porém, com o tempo, a poeira vai se avolumando, meu sentimento de vitória vai arrefecendo... E num dia qualquer me pego reclamando de tudo e de todos. Estranho é essa reclamação, achando que apenas o outro é contente, e eu, não o sou? A grama do vizinho é mais verde, porém quero cultivar o meu quintal, sentir seu cheiro, ver seus pássaros, brincar no balanço, balançar com qualquer coisa que me entusiasme, tal como essa minha vida de estudante. Não é que eu queira reclamar, mas o problema consiste nela. Aquela que é presente sem ver, que embrulha meu estômago, que me dilacera, que eu sinto sempre: quando paro e quando ando. Se ando distraído ela me espera, se quero encontrá-la corro atrás, se mudo o passo ela me empurra... A vejo quando minha vida muda, quando a ganho. Ela não me aparece sem surpreender, só a sinto com a mudança de atitude, só se eu pensar diferente... É como eu me obrigar a não ser igual, a querer modificação, só para vencê-la; mostrar a ela que sou capaz de chamar sua atenção, ter braço mais forte nessa queda de braço imaginária.
Ela talvez me faça evoluir, mas antes tira meu sono, sossego, me deixa sedento de desafio... Cria batalhas dentro do peito, crises de mercado, apogeu e decadência dentro de mim. De tanto fogo, explosão, meu motor funciona, e a cada metro a venço, avanço cada vez com menor dificuldade, porque após isso ela mesma me ajuda no movimento, mas resiste a cada vez que a desobedeço, pois sou humano, demasiado humano, mais um boêmio romântico de casos mal resolvidos, nessa disputa de amor e indiferença, dessa tua presença que não se cala diante de mim, e que tanto faz barulho a qualquer um que tiver carne e osso...
Ela, maldita, quiçá bendita... Te amo e te odeio, inércia.
O TRÁGICO DILEMA
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.
Mário Quintana