PEDRO CAETANO, COMPOSITOR

CONVERSANDO NUM ÔNIBUS COM PEDRO CAETANO

Nelson Marzullo Tangerini

O que me fez escrever esta crônica, que aí vai, foi uma viagem que fiz, em 2008, com um seleto grupo de professores do Colégio Antônio Houaiss, onde leciono, à cidade paulista de Bananal, quase na divisa com o Estado do Rio de Janeiro.

Destaquei-me um pouco do grupo e fui ter numa Casa de Cultura, onde fui atendido por um senhor, cujo nome esqueci, que me falou sobre o compositor Pedro Walde Caetano, natural daquela cidade quase fluminense, onde nasceu a 1 de fevereiro de 1911.

Num mural, no meio do salão, recortes de jornais sobre o ilustre filho da terra que viveu toda a sua vida no Rio de Janeiro.

Conheci Pedro Caetano, pessoalmente, certa vez. E conversei com ele, quando vinha para casa, no ônibus 606 – Engenho de Dentro – Rodoviária, Viação Matias. Acho que o compositor morava no Engenho de Dentro ou ali tinha negócios, uma vez que fomos conversando até ao final da linha.

Falei-lhe sobre meu pai, também compositor, e fiquei sabendo, então, por ele, que havia sido amigo de Nestor Tangerini, por quem tinha grande admiração.

“ - Conheci seu pai. Gosto muito da valsa Dona Felicidade, que ele compôs com Benedito Lacerda. Éramos membros da UBC. Foi essencialmente um autor de revistas e um grande poeta.”

Pedro Caetano, que já estudava piano desde cedo, mudou-se para o Rio aos 9 anos.

Aos 22 anos, fez seu primeiro samba “Foi uma pedra que rolou”, mas seu primeiro sucesso foi a valsa “Caprichos do destino”, com Claudionor Cruz, seu parceiro mais constante, gravada em 1938 por Orlando Silva.

Em 1942, o cantor Ciro Monteiro, que seria um de seus maiores intérpretes, gravou, na RCA Victor, seu choro “Botões de laranjeira”, e, no mesmo ano, Francisco Alves gravaria outro sucesso seu: o samba “Sandália de prata”, de parceria com Alcir Pires Vermelho.

Para o Carnaval de 1944, Pedro escreve, de parceria com Claudionor Cruz, a canção “Eu brinco” (ou “Com pandeiro ou sem padeiro”), que obteve grande êxito na voz de Francisco Alves, o Rei da Voz.

Em 1946, Ciro Monteiro volta a gravar outra obra sua, “O que se leva desta vida”, na RCA Victor, desta vez com acompanhamento do regional de Benedito Lacerda e do clarinetista K-Ximbinho. Este choro tornar-se-ia um dos clássicos do repertório de Ciro.

No Carnaval de 1947, Pedro Caetano lança outro samba de sucesso, “Onde estão os tamborins”, gravado pelo legendário conjunto Quatro Ases e um Coringa”

Era véspera do carnaval de 1946 e a Estação Primeira de Mangueira estava quieta, sem qualquer sinal de animação. Esta cena motivaria o compositor bananense a fazer “Onde estão os tamborins?”, samba em que reclamava do marasmo em que a escola vivia na ocasião, vivendo somente de glórias passadas. E reclamava, também, da ausência dos sambas do mestre Cartola, na época sumido do morro.

Lançado um ano depois, pelos Quatro Ases e Um Coringa, “Onde estão os tamborins?”, que poderia ser uma pergunta para os dias atuais, pois em nossa cidade reina a ditadura do funk, seria o grande samba do carnaval de 1947.

Em 1948, Pedro Caetano escreve “É com esse que eu vou”, gravado pelos Quatro Ases e Um Coringa, desta vez pela Odeon, e o samba torna-se destaque no Carnaval.

Para o Carnaval de 1961, Pedro lança a marchinha “Desta vez vamos”, satirizando o slogan de Ademar de Barros, então candidato à Presidência da República.

Seguindo nessa mesma linha, o compositor escreve, para o Carnaval de 1955, a marcha “Todo mundo enche”, de parceria com Alexandre Dias Filho, canção que ironizava a atuação enérgica do então diretor de trânsito do Rio de Janeiro, Coronel Américo Fontenelle.

Com o velho companheiro Claudionor Cruz, escreve em 1968, a marcha “Jambete sensação”, que foi uma das classificadas no concurso de Carnaval promovido pela Secretaria de Turismo no extinto Estado da Guanabara.

Pedro Caetano teve como parceiro mais frequente o compositor Claudionor Cruz, mas também escreveu obras primas de parceria com figuras ilustres, como Pixinguinha, Noel Rosa, Alcir Pires Vermelho e Valfrido Silva.

Embora fosse autor de mais de 400 composições, Pedro não fez da música a sua profissão, uma vez que sempre foi comerciante de calçados.

Aos 64 anos de idade, o compositor gravaria, na RCA Victor, um LP cantando suas próprias canções.

No dia 27 de junho de 1992, o modesto e inspirado compositor paulista aposentava sua pena, deixando, para as futuras gerações – mais para as pessoas dotadas de sensibilidade -, uma valiosa obra que ficará para sempre registrada na História de nosso cancioneiro popular.

Esta viagem a Bananal, promovida pela profa. Iacy, foi muito proveitosa para mim, porque, ao descobrir que Pedro Caetano havia nascido na cidade paulista de Bananal, pude me lembrar do meu encontro com o compositor dentro de um ônibus e escrever sobre ele.

Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.

nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br

[Para escrever este texto, plagiei os seguintes blogs:

http://www.collectors.com.br/CS07/cs07p01a.shtml

e

http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/05/onde-esto-os-tamborins.html ]

http://narzullo-tangerini.blogspot.com/

e

http://nelsonmarzullotangerini.blogspot.com/

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 27/04/2009
Código do texto: T1561984