Em busca do passado
Edson Gonçalves Ferreira
Estou com o passaporte do meu avô paterno Joaquim Francisco Ferreira que saiu de Aveiros, Portugal, em 1891, deixando para trás seu pais José Francisco Ferreira e Felicidade Pinto da Costa. Ao chegar no Brasil, trocaram o seu nome para Joaquim José Ferreira e, assim, na certidão de nascimento de meu pai consta esse nome. Chegando em Juiz de Fora, tornou-se construtor e, depois, foi para Itaúna onde, também, deixou um legado arquitetônico e musical e filhos.
Aqui, casara-se com minha avó Dona Leopoldina Ferreira e teve os filhos: Rodrigo, Antenor, José, João, Eulina, Aurora e Luiza que, agora, está com 102 anos. Tia Luiza é a única filha, pois, viva e, em Portugal, não sei se ficaram mais irmãos, porque não cheguei a conhecer meu avô paterno, morreu antes e apenas conheci sua irmã Tia Henriqueta Ferreira que, aqui, chegou depois dele.
O interessante é que, vovô Joaquim é, portanto, do Porto e do lado de minha mãe, o vovô Manoel Gonçalves veio, também, de Portugal, desse não tenho o passaporte. Pedi ao Arquivo Distrital de Viseu a Certidão de Nascimento dele. Descobri que ele nasceu dia 18.02.1883 e que, portanto, veio para o Brasil em 1894, aproximadamente e, aqui, se casou com a espanhola Lavínia Araújo Gonçalves.
Vovô Manoel nasceu Manhouce, conselho de São Pedro do Sul, distrito de Viceu, bem longe, pois, do Porto e, no Brasil, seus filhos se encontraram e deles descendo. Aqui, no Brasil, meu avô tornou-se ferroviário e se aposentou na Rede Ferroviária Federal S/A, hoje, Centro Altântica. Uma curiosidade, na imigração, acrescentaram Gomes ao nome dele e, portanto, na certidão de minha mãe consta seu nome como Manoel Gomes Gonçalves, filho de Custódio e Ana Rita Gonçalves.
Vovô Manoel era um doce. Morreu quando eu tinha 7 anos, mas me lembro da colheita das uvas nas vinhas no quintal da minha casa e da Tia Criola. Depois, ele me colocava, junto com minha prima Ione, dentro dos tonéis para pisar a uva. Colocava os tonéis nas vigas do telhado da antiga casa de meus pais e, depois, fazia o vinho.
Hoje, pensando numa viagem, viajo nos papéis antigos que contam a nosssa história. Sei que sou por três lados descendente de português e por um lado de espanhol e, como nasci no Brasil, sou também brasileiro orgulhoso. Acho que sou, antes de tudo, cidadão luso-brasileiro e, por excelência, cidadão do universo, porque comungo com todos a minha fome de amar e viver amando.
Agora, se algum primo ou prima desconhecidos lerem essa crônica, tenham a certeza de que mesmo que nunca nos encontremos, existe na terra onde canta o sabiá, um poeta que prossegue a jornada da família. Sim, porque vovô Joaquim era construtor, oleiro, escultor, músico e poeta e vovô Manoel era um artesão fantástico que dourou a minha infância.
Divinópolis, 25.04.09