A vida emocional de um cyber

O “cyber 1 café” foi o primeiro cyber da cidade de Santa Vitória do Palmar. Graças ao atendimento hospitaleiro de Norberto e sua equipe de sócios, a tecnologia pode ser atendida em face ao novo desesenvolvimento. Ficava na esquina da Sete de Setembro e na mesma rua onde funcionava o Posto dos Correios da Coxilha. Mas isto é outra história ainda que das mais difíceis até hoje para mim. O certo é que o ser humano todo está inteiramente projetado no micro.

Lembro-me de presenciar um dos efeitos vivos e positivos da nova tecnologia. O negativo é recheado de contradições disponíveis, mas o positivo é farto de emoções fortes. Tratava-se de uma senhora de idade num ponto geográfico distante que não via a filha há muitos anos. Puderam falar e se ver pela web-cam. Assisti calado a cena profundamente emocional. Emoção que convém a matéria onipresente das mães.

Há qualquer coisa de Robespierre no terreno laico desse regime confessional dos cybers. É que já não se faz mais necessário o confessionário. Praticamente as pessoas se despem no confessionário tecnológico. Fazem isto sem querer até. São observadas, analisadas, catalogadas e tratadas por um sistema de raízes ocultas no desejo único de ser e estar no primitivo mundo tribal e gregário. Muitas vezes desagregadas e desassistidas no mundo. O que me irrita quanto a falta de geração de renda individual real, dez centavos a cada acesso que fosse; coisas do gênero para minorar a crise universal da pessoa física. (Por Zeus! Que grande caça níquel de poucos tem sido até agora tanta tencologia! Comparando os donos do lucro com as massas inseridas no processo).

Lendo um poema de Maria Olimpia Alves de Melo* fiquei emocionado. Em silêncio ocultei o brilho dos olhos umedecidos pela leitura no brilho do visor. Para que não dessem por mim, já que roubaram do telhado a antena do meu micro. Fiquei imaginando a cena de um choro compulsivo em pleno cyber e que espécie de consolo haveria. Provavelmente nenhum e todos continuaram clicando ou digitando. É uma cena de filme moderno. Na verdade sou chorão controlado e assistido por racionalismo embriagado de lirismo, boxeador enxadrista esquivado pelo humor prático. Há muita coisa emocionante nesse espetáculo expositivo da lógica. É o mesmo que lembrar a falta completa de estrutura de marketing no território provinciano com o acesso integral aos meios de mídia. O aproveitamento tecnológico resulta em condições emocionais, no envolvimento da teledramaturgia do cidadão, ocultando por muitos anos a exploração e a desigualdade dos meios. A tecnologia nada mudou e é assim desde os tempos de minha avó. Quanto ao poema? Sim, fiquei enternecido de saudade da polonesa explorada como imigrante num país de sonhos.

________________________________________________________ *Escritora do Recanto das Letras.