Mega Vó 8: Pagar na Mesma Moeda?

Pagar na Mesma Moeda?

Ana Esther

08/04/2009

Evento sofisticado na cidade: uma exposição de carros de luxo importados e de edição limitada. Para obter-se um deles somente sob encomenda e a preços de marajá! Cada carro uma máquina de grande formosura. Não é de se admirar que o ingresso para ‘olhar´ aquelas tentações era um salário mínimo, literalmente. Como não poderia deixar de ser Ana Brasilis é a fotógrafa oficial contratada para registrar o evento.

Ana Brasilis esmerava-se em tirar fotografias de alta qualidade quando escutou um tumulto abafado na bilheteria. Era o Roberval, insistindo em entrar sem pagar. Naturalmente os seguranças trataram de afastá-lo do local sem maiores dramas.Tudo transcorreu na maior tranqüilidade após aquele incidente.

Cerca de uma hora e dezenas de fotos depois, Ana Brasilis escutou ao longe um pedido lamentoso de socorro. Imediatamente ela sacudiu sua bolsa a procura da versão miniaturizada da já famosa... Bengala Mágica! ‘Chama a vovó!’ bradou Ana Brasilis transformando-se na heroína mais velha do planeta, a ultra poderosa, Mega Vó!

Voando pelos céus de Florianópolis e seguindo sempre o som daquele lamento a Mega Vó chegou a um depósito, opa, melhor dizendo, um Asilo de Velhos. Era um lugar por si só deplorável, mal cuidado, caindo aos pedaços, imundo, cheio de insetos e fedores de toda a sorte (ou azar). Sem demora a Mega Vó passou através de uma janela e aterrissou justo em frente ao Seu Astrogildo que, chorando, implorava que seu filho Roberval não pegasse mais seu cartão do banco. No dormitório coletivo outros três velhinhos dormitavam em suas camas totalmente alheios ao que se passava ali.

Pai e filho empalideceram de puro espanto ao verem a Mega Vó empunhando com determinação a Bengala Mágica. Os três velhinhos levantaram-se assustados e boquiabertos fitavam incrédulos a super velhinha.

‘Seu velho rabugento e miserável! Recorrendo a uma velha fantasiada de ‘Ridícula a Mais Não Poder’ para te proteger!’ Quando o Roberval recuperou-se do susto empurrou o pai que caiu sentado na cama.

‘Meu caro Roberval... que fácil ser machão e metido a fortão com um pobre velhinho frágil como o Seu Astrogildo...’ Disse a Mega Vó com sua voz terna.

‘Quem te chamou aqui, sua enxerida?’ Reclamou o Roberval furioso.

Ele já ia partindo para cima da Mega Vó quando ela apontou a Bengala Mágica direcionando diretamente nos olhos do Roberval. Seu Astrogildo implorou que ela não machucasse seu filho. A Mega Vó então explicou que os raios hipnotizadores da Bengala Mágica só fariam com que o Roberval abrisse seu coração.

‘Por que tu ages assim, meu filho?’ Indagou a Mega Vó com candura.

Sob influência dos raios ele confessou. ‘Eu uso o cartão pra pegar o dinheiro dele porque ele foi um pai muito ruim pra mim! Ele se separou da minha mãe e nunca vinha nos visitar. Eu amava tanto ele, sentia saudades mas ele nem dava bola pra mim.’

A Mega Vó abaixou a bengala. Recorreu ao seu Olhar do Arrependimento e disse: ‘Roberval, e porque o teu pai foi omisso tu viras um ladrão? Os teus filhos estão sabendo disso... vão fazer o mesmo contigo depois, que exemplo péssimo!’

O efeito mágico do Olhar do Arrependimento fez com que o Roberval refletisse e se arrependesse. Prometeu, chorando como um bebê, jamais repetir aquele ato e tentaria entender os motivos do Seu Astrogildo. Convidou o pai para ir morar com ele.

Antes de ir embora, entretanto, a Mega Vó, cochichou no ouvido do Roberval que ele voltasse à exposição de carros de luxo e procurasse pela fotógrafa Ana Brasilis... ela o deixaria entrar no evento de graça...

*Esta minha crônica da Mega Vó aparecerá no jornal Cultura&Lazer de Florianópolis, SC.