Anos Dourados
A Mafalda era bem o tipo de garota da segunda metade dos anos cinquenta.
Esbelta, alourada, de olhos de mel e corpo atraente, ela gostava de dançar os hits do filme “Rock around the clock” agitando a longa saia rodada, armada com os saiotes que vestia por baixo, adorava cinema e a música romântica dos Platters.
Seus cabelos muitos lisos eram amarrados em “rabo de cavalo” tão em voga nessa época, e eu adova vê-la no verão com aquelas blusas de mangas muito curtinhas, com decote suficiente para eu espraiar meu olhar, adivinhando-lhe os seios que, imaginava, seriam “de sonho”...Sonho impossível para um menino de 12 anos muito franzino, mirradinho, condenado a ter apenas sua amizade como se de um irmãozinho caçula se tratasse.
Ela sentava bem juntinho de mim me explicando alguma matéria que eu matreiramente só entendia à segunda explicação, tirando vantagem do cheirinho gostoso e inebriante de menina, que ficava entranhado nos meus sentidos me deixando daquele jeito...De olhar semicerrado, envolto em pensamentos indecentemente belos!
Junto com seu Diário, eu tinha o status de “poço sem fundo”, sempre disposto a ouvir-lhe os queixumes e revoltas por seu conturbado e combatido namoro com um “Teddy Boy” lá do bairro, com quem acabava se encontrando à sucapa para depois me deixar louco de ciúmes com seus relatos de beijos cinematográficos e excitantes carícias! Eu acho que ela tinha um prazer mórbido em me deixar ouriçado!...
Uma noite de primavera-quase-verão, seus pais foram a uma reunião e eu fiquei de cachorrinho de guarda! Ela deitada em sua cama e eu sentado num pequeno sofá, os dois mergulhados na leitura, até que de repente ela me diz que havia comprado um novo e moderníssimo maiô. Levantou-se, abriu a porta do roupeiro e, procurando ocultar-se atrás da dita, simplesmente despiu-se nuazinha, repetindo autoritária: “Nada de olhares furtivos”!
Se ela notou ou não que eu admirava trêmulo e engulindo em sêco sua esplendorosa nudez através do espelho do “toucador”, eu não sei! Se o maiô era bonito? Não tenho a mais remota das idéias...Só mesmo seu corpo divino eu retive na memória!