Manchete de Jornal

UM JOGADOR DE FUTEBOL BRASILEIRO RENOVA CONTRATO MILIONÁRIO COM CLUBE EUROPEU. O FMI ADVERTE: UM MILHÃO DE PESSOAS PASSARÃO FOME NOS PRÓXIMOS ANOS. TRINTA E SEIS MILHÕES DE REAIS É O LUCRO OBTIDO POR QUADRILHA ESPANHOLA COM A PROSTITUIÇÃO DE MULHERES – BRASILEIRAS, NA MAIORIA ABSOLUTA. A CÂMARA DOS DEPUTADOS APROVOU O AUMENTO DE QUASE 30% DO SUBSÍDIO DOS PARLAMENTARES, QUE ULTRAPASSARÁ DEZESSEIS MIL REAIS. JÁ PASSA DE TRÊS MIL O NÚMERO DE DESABRIGADOS NO ESTADO DO MARANHÃO.

Essas são as manchetes que enfeitam a cara dos nossos jornais. A segregação social estende-se mundo afora, as desigualdades crescem descontroladas, os desabrigados lotam não só as ruas das capitais do terceiro como do primeiro mundo também e os pobres ficam mais pobres. Os ricos, cada vez mais ricos.

Em que instante da história nós deixamos de ser iguais? Pois minha pobre memória não alcança o passado em que os homens se enxergavam em paridade, em que nos víamos em guerras de igual para igual, onde as batalhas eram fundadas não só nas terras almejadas, mas na moral de cada grupo. Essa, ao meu ver, é a única luta legítima de nossa natureza, pois a luta de classes constitui a forma mais desumana e covarde que o homem inventou.

A era capitalista espalhou-se como praga pelos continentes, disseminando costumes levianos do consumismo desnecessário enquanto exterminava pouco a pouco os resquícios das culturas milenares. Nós trocamos os trajes pela moda européia, os alimentos pelos fasts-food, a língua pátria pelo inglês universal. Nós vendemos nossos costumes por produtos que enchem os olhos da ganância, trocamos a comunidade pelo individualismo patético que a riqueza impressiona.

Enquanto populações inteiras eram doutrinadas na ditadura mascarada da globalização, a escravidão indireta infiltrava-se nos becos, marginalizando os povos esquecidos e tirando-nos a voz. A massa calou-se porque não tinha poder, apesar de ser a sustentação de todos os reis de trono comprado.

Nós somos o que queremos ser, no limite em que nos permitirem. Enquanto cerrarmos os olhos para o espelho, continuaremos com críticas inúteis dos defeitos que são nossos. Enquanto sustentarmos, haverá prostituição; enquanto nos calarmos, haverá corrupção; enquanto valorizarmos, haverá a mídia milionária. Seremos o que quisermos ser quando quisermos ser iguais.

Ie
Enviado por Ie em 24/04/2009
Código do texto: T1557355