Ensaio sobre O PRAZER DA FOFOCA
A origem da palavra fofoca vem do verbo mexericar que significa falar mal de alguém e que deriva do forte odor que a fruta mexerica deixa na mão. Não há como esconder que se comeu ou descascou uma mexerica. Essa mesma inclinação reveladora tem o fofoqueiro. Pedir segredo para o fofoqueiro é como pedir a alguém que não revele que comeu uma mexerica. Falar da vida alheia é uma prática bastante antiga. Na pré-história, os homens buscavam informações da vida de outros humanos, para saber suas fraquezas e medos com o objetivo de dominar, conquistar, vencer. Naquela época não havia escrita e as informações eram passadas oralmente. Assim, a fofoca passou a fazer parte da história, sendo utilizada em estratégias políticas, para desmoralizar monarcas.
No Jardim do Éden, logo após Adão e Eva ter comido do fruto proibido, a Serpente - causadora da expulsão do casal do Paraíso -, não satisfeita, disse para Adão que ouviu dizer que Eva teria dito que achava o seu pinto pequeno. Se Adão acreditou, ou não, o certo é que logo depois tratou de cobri-lo com uma folha de parreira.
O fato das pessoas se importarem tanto em saber sobre a vida dos outros muitas vezes é uma compensação por frustrações próprias, além de pouca atenção e cuidado com a própria vida. Quem faz fofoca levando as derrotas dos outros para frente é porque não quer olhar para os próprios erros. As pessoas mais incapazes são as que mais fazem fofoca. Quem falou isto foi a psicóloga Emília Maria de Oliveira (revista Comportamento, online, ano 1, n° 2).
A fofoca tem reputação indiscutível. Muitos a praticam com zelo e competência invejáveis e nem sempre ela se apresenta como intriga. Às vezes é beneficamente necessária, surgindo como esclarecimento de fatos. Todos os meios de comunicação nos mantém alimentados com a ‘mexericada’ de qualquer espécie.
A futrica governa invisivelmente o mundo, que é uma teia enorme de fofocas aumentando a cada segundo. Há sempre uma boca para fofocar e muitos ouvidos prontos para acolher, distorcer, aumentar e passar adiante. Todos querem dar sua contribuição, sentir ‘o seu prazer’. Tudo isto parece ser a mais autêntica verdade.