O olfato
Adão, o primeiro dos homens, no desabrochar da existência se deparou com a fresca beleza do paraíso à sua volta ao abrir os olhos. Viu a si próprio em meio a folhagens de todas as espécies logo em seguida ao sopro de Deus nas suas narinas, sopro por meio do qual a vida lhe foi transmitida. Também respirava ele pela primeira vez. E não somente ele, mas o homem, no sentido mais geral da palavra, pela primeira vez respirava, ao mesmo tempo que olhava com olhos virgens um mundo também virgem do olhar. Sabemos, ou imaginamos saber, que tenha visto uma gama enorme de cores e matizes. Mas teria ele sentido algum cheiro? Quem sabe de mato, de fruta, da umidade do orvalho? Se sentiu algum, como ele próprio poderia saber se não possuía lembrança de outros para comparar? O que é diferente do que ocorre às outras pessoas, aquelas para as quais ser da espécie humana já não constitui novidade alguma, que acordam todos os dias e sentem algum cheiro, pois logo são capazes de identificá-lo, mesmo ainda sonolentas. Por exemplo, o cheiro de comida quando acordam ao meio dia; o de café, quando acordam bem cedinho; o de capim, quando estão em fazenda; o do perfume da pessoa próxima, quando são amadas por alguém.