Café

Fiquei prostrado ali em pé!

Antes eu andava de um lado para outro, angustiado. Como eu queria que o telefone tocasse.

Fiz um café! Peguei um livro. Sentei-me à cama e comecei a ler. Não me lembro bem qual era a história.

Tomei em minhas mãos a xícara entornei um gole. Desceu suavemente pela garganta. Estava quente! O sabor levemente adocicado foi lentamente absorvido por meu corpo.

Olhei para o telefone. Nada, nenhum toque.

O que estaria fazendo? Pensei.

Mais um gole!

Já era quase meia noite e não me ligava.

Voltei a ler.

Queria saber qual foi o meu erro, ainda não consigo entender o porquê de toda aquela desconfiança.

Mais um gole!

Acredito que eu tenha sido bem claro e honesto! O que aparentemente de nada adiantou.

A história estava boa.

Servi-me de mais uma xícara de café.

Eu realmente não conseguia entender, ela havia me pedido para ser honesto. Ela havia me pedido para contar o que eu sentia por ela e eu lhe disse: “o que mais quero é fazê-la feliz”.

Olhei em volta e nada fazia sentido. O que eu estava fazendo ali parado, esperando um telefone tocar, como se ele pudesse trazer de volta minha esperança.

Só uma palavra era o que eu queria.

De súbito atirei o livro contra a parede. Ele se despedaçou! Corri até ele e prostrei-me sobre suas páginas agora espalhadas pelo quarto. Comecei a juntá-las uma a uma.

Maldito telefone! Porque não toca?!

Furioso, lancei as folhas que estavam em minhas mãos ao chão. Apoiei minhas mãos no piso frio e chorei. As lágrimas escorriam por meu rosto e caíam sobre as páginas.

Só um telefonema era o que eu queria!

Levei minhas mãos de encontro a cabeça, inclinei meu corpo para trás apoiando-o sobre meus calcanhares e gritei.

Seu rosto me veio à mente, e pude entender o porquê de tanto gostar.

Queria ao menos ter sentido teus lábios uma única vez. Queria ter sentido o calor do seu corpo junto ao meu.

As lágrimas teimavam em rolar por meu rosto.

Maldito telefone!

Será que ela tem ao menos idéia do que estou passando agora? Será que fui suficientemente claro sobre meus sentimentos?

Não me arrependo! Fiz o que pude. Mais então porque não me liga?!

Levantei-me e tomei um gole de café. Estava frio e amargo. Desceu sem gosto!

Enxuguei as lágrimas gélidas que ainda rolavam por meu rosto e engoli o choro. Este também estava amargo e não foi nada agradável.

Peguei o balde de lixo no quintal e fui apanhar as folhas do livro que estava no chão. Despedaçado.

E se ela nunca tivesse realmente demonstrado interesse? E se tudo fosse uma ilusão da minha mente fértil?

Agora eu estava em dúvida.

Porque não toca! Maldito telefone!

Talvez por eu desejar tanto encontrar alguém especial é que eu sofra, lançando todas as fichas sob um sentimento que talvez só exista em mim.

Servi-me de mais uma xícara de café. De alguma forma ele me acalmava.

Como eu queria que ela me ligasse e falasse que aceita dividir esse sentimento que transborda sob meu peito.

Fui à janela e olhei ao céu. A lua encoberta pouco se mostrava. As estrelas pareciam piscar uma a uma.

O que devo fazer?

Corri ao telefone na certeza de ligar para ela.

Recuei. Não tive coragem. Não fazia sentido. Não parecia certo.

Olhei mais uma vez para o telefone. Nada!

Sentei-me na cadeira, apoiei os cotovelos nas pernas, baixei a cabeça e mais uma vez chorei.

O que esta acontecendo comigo?

Levantei-me e caminhei pela sala.

Mais um café. Desta vez resolvi acender um cigarro.

Que noite!

Até onde eu pergunto. Até onde serei digno do seu carinho.

Sinto-me só!

Está ficando frio. Queria poder me aquecer.

O que será que ela está fazendo?

Eu estou acordado, angustiado.

Provavelmente ela esteja dormindo. Por isso não me liga. Mas e se estiver acordada? Porque não me liga?! Preciso tanto ouvir sua voz.

Ouço o cantarolar dos pássaros. Será?

O sol já vem raiando, a garrafa de café já esta vazia e o telefone não tocou.