1944 / VASCO DA GAMA GARFADO
E VALIDARAM O GOL DE VALIDO...
Nelson Marzullo Tangerini
Volta e meia encontro-me, na Rua Maranhão, no Méier, com o Sr. Roberto Vantuil, um ex-funcionário - e hoje sócio - do Vasco da Gama, que me conta, entre saudoso e magoado, a triste história do primeiro tricampeonato do Flamengo, em 29 de outubro de 1944, quando o jogador argentino Valido subiu apoiando-se nas costas do jogador Argemiro e, aos 41 minutos do segundo tempo, fez, de cabeça, o gol único da partida e do rubro-negro.
O juiz Guilherme Gomes [já falecido] alegou, na época, nada haver de anormal no lance, mas a torcida vascaína até hoje questiona aquele campeonato.
Morador da Rua Leopoldina, em Piedade, subúrbio do Rio, o Sr. Guilherme puxava de uma perna. Segundo moradores antigos da referida via, que o conheceram, teria levado um tiro de um torcedor exaltado do Vasco. Conta-se, ainda, que era torcedor do Flamengo.
Meu avô português, José Pinto da Costa, botafoguense, e não vascaíno, que viu o nascimento e crescimento do esporte bretão no Brasil, contava-nos, em casa, este curioso episódio, entre tantos outros do futebol brasileiro.
Sempre demos muita importância a seus relatos, ainda que parecessem coisas do passado, e, com ele, aprendemos a amar o Glorioso Botafogo, o clube que uniu nossa família e revelou jogadores de renome internacional como Nilton Santos, Didi, Amarildo, Zagallo, Garrincha, Quarentinha, Jairzinho, entre tantos outros que honraram a camisa da Seleção Brasileira e do clube da Rua General Severiano.
O que seria da Taça Jules Rimet se não fossem as estrelas do Botafogo? O fato de o alvinegro ter sido responsável pelo tricampeonato brasileiro, ainda incomoda certos comentaristas e cronistas de futebol, até hoje.
Achei muito interessante a história contada por José e pelo Sr. Roberto, a respeito do Vasco da Gama, justamente num momento em que a imprensa, abertamente flamenguista, torce por novo tri, exagera nos elogios e na bajulação, e fala até a exaustão dos inúmeros tris conquistados pelo clube da Gávea.
Vejamos, pois, o que encontramos, a respeito do clássico no site http://classicoeclassico.sites.uol.com.br/rj/flaxvas_historias.htm :
“Na escaldante tarde de 29 de outubro, o pequeno Estádio da Gávea, lotado por mais de vinte mil torcedores, fervilhava.
Sem Leônidas, que fora para São Paulo, Domingos da Guia, para o Corinthians, e Perácio, que fora para a guerra na Itália, o Flamengo não era mais o time forte e seguro de si do início do campeonato.
Para piorar, o ponta-direita Jaci se machucara e o técnico Flávio Costa teve de recorrer ao argentino Valido, que, aos 42 anos, já se aposentara.
Enquanto isso, o Vasco, treinado por Ondino Vieira, começava a montar o que se transformaria no famoso Expresso da Vitória: o trio Lelé, Isaías e Jair, que enchia a torcida de alegria.
Ademir Menezes metia gols em todos os jogos e Djalma surgia como o primeiro curinga do futebol brasileiro.
Os dois clubes chegaram à final empatados. O jogo começa com o Vasco mostrando suas garras com dois ataques perigosos de Ademir e Isaías. Mas o Flamengo estava mordendo, liderado por Zizinho.
O jogo seguia para o empate, quando, faltando 4 minutos para o final, o ponta-esquerda Vevé, ao tentar um lançamento para Valido, foi derrubado por Djalma. Vevé mesmo cobrou a falta. A defesa rebateu e a bola voltou para ele que serviu Valido. O argentino subiu em direção ao cruzamento apoiando-se nas costas do zagueiro Argemiro e desferiu uma cabeçada fulminante. Gol. Gol que garantiria o primeiro tricampeonato da história do rubro-negro”.
O Vasco da Gama jogou com Barqueta, Rubens, Rafanelli, Berachocheia, Alfredo, Argemiro, Djalma, Lelé, Isaias, Ademir e Chico, enquanto o time do Flamengo era formado por Jurandir, Quirino, Newton, Valido, Jaime, Bria, Pirilo, Zizinho, Tião, Biguá e Vevé.
José nos contava, também, que, quando as finais eram jogadas nas Laranjeiras ou na Gávea, a tendência era o juiz favorecer o dono da casa. Daí a construção de um estádio neutro, o Maracanã, inaugurado em 1950, no terreno do antigo Derby Club, para acabar com os favorecimentos. Isto talvez explique por que Vasco da Gama e Botafogo têm menos títulos que Flamengo e Fluminense.
Em outra crônica, falarei do gol anulado de Dodô na decisão Flamengo 2 x 2 Botafogo de 2007. Além de ver seu gol legal anulado pelo árbitro Djalma Beltrami, que depois confessou estar triste por ter errado e prejudicado o Glorioso, o jogador do Botafogo, um dos batedores de pênaltis do clube, foi expulso por não ter ouvido apito do juiz num momento em que não estava impedido.
Momentos como estes, a imprensa do Rio, abertamente flamenguista, não faz questão de comentar.
Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é jornalista, escritor, compositor, poeta, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.
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