ESCOTEIROS

Ouvi agora no rádio que hoje é o dia mundial do Escotismo. Tem dia para tudo, em vez de ter tudo todos os dias. Mas sem neuras nem delongas, vou matar saudades de um tempo.

Quando era criança havia grupos de escoteiros por todos os lados. Eu gostava porque gostava de aventurar pelos matos como também gostava de ler o Pato Donald, cujos sobrinhos eram escoteiros mirins e estavam “sempre alertas”, ajudando velhinhos a atravessar ruas, a carregar sacolas, a salvar bichinhos em apuros, fazer nós difíceis, nadar, pescar e uma infinidade de coisas que ajudavam a formar sujeitos de bom caráter. Nada de moralismo nem puritanismo, apenas uma saudosa lembrança.

Lembro também que foi uma das primeiras manifestações pela inclusão das mulheres no chamado mundo masculino. Já havia os grupos femininos de escoteiros muito antes dos movimentos feministas. Eram as bandeirantes. Não tinham reivindicações específicas das mulheres, mas tinham os mesmos princípios dos grupos masculinos. Só que a sociedade ainda era muito separada em mundos de gênero, então escoteiros para um lado, bandeirantes para outro. Se encontrassem, rolava no máximo um piquenique bem comportado. E lembro principalmente porque foi o meu pai quem ajudou a fundar o primeiro grupo de escoteiros em minha cidade (apesar dele nunca ter nos levado (os três filhos homens) para sermos, nem que fosse Lobinhos, os escoteiros mirins. Tinham um uniforme esquisito, parecendo guarda florestal de calça curta, mas eram de uma disciplina e solidariedade sem par.

E lembrando das coisas aproveito sempre para pensar. Por que será que a modernidade tem que inexoravelmente acabar com boas tradições? Tudo bem, se em seu lugar ficasse algo ainda mais positivo para o desenvolvimento humano! Mas não tem sido assim ao longo da história. Até que de vez em quando a gente vê um velhinho sendo conduzido por um jovem. Para um caixa eletrônico ou para um asilo. Talvez o mundo esteja produzindo muito mais coisas de que precisamos para viver. E assim não sobra tempo para perdermos com outras humanidades impalpáveis.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 23/04/2009
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