Ela me abriu todas as portas ( Aos Amigos da Terceira Idade ).
Depois de mais de vinte anos, lembrei daquela anciã. Eu acabara de passar pela Rua da Aurora, atravessei a Ponte de Ferro, e continuei em direção à Praça do Diário. Ia apreensiva, pois o lugar era cheio de trombadinha, e de ladrões que se disfarçavam de pessoas que iam às compras, de estudante, de passageiro... Era um Deus nos acuda andar por aquelas áreas. Qualquer deslize, pronto já era carteira, sacola, e por aí vai.
Minha terra!!! É triste falar, mas era a realidade que eu presenciava, e não poderia escrever de outra maneira.
Volto aos anos 80.
Quando eu vou passando pela Praça do Diário, vejo uma anciã com dificuldade para atravessar a rua muito movimentada, não lhe dava chance para passar. Vi que as pessoas não percebiam aquela figura tão pequenininha. Fui até ela e me ofereci para ajudá-la. Ela aceitou, e quando atravessamos, perguntei para onde ela estava indo. Ela me respondeu, e a levei até o Banco. Chegando lá, me pediu para ajudá-la a retirar seu rico dinheirinho! Fiquei surpresa, e inquieta.
Entrei, procurei um caixa, e vi o quanto, foi fácil tirar o dinheiro e saber tudo da vida daquela anciã. Depois que saímos do banco ela me convidou a ir até sua casa. Morava só. Era uma judia, que chegara aqui no Brasil fugindo da Segunda Guerra Mundial. Viúva, sem filhos, convidou-me a ir visitá-la quantas vezes quisesse.
Através das nossas conversas percebi que ela não só abria as portas da sua casa, ela escancarava as portas do seu coração. Após os plantões, dava uma passadinha na sua casa, e ali tomava um cafezinho. Observava aquele ambiente tão cheio de lembranças. A casa ficava na parte velha do Recife, e dentro era um amontoado de móveis velhos, baús, bibelôs, quadros, espelhos, etc. Cheirava ao tempo.
Depois de um ano, precisei viajar, e perdi contato com aquela senhora. Ainda voltei lá, mas encontrei a casa fechada, e as informações que me passaram, estavam desencontradas. Desisti.
Retorno. Estamos em 2009. Deixei minha cidade. Estou fora há dez anos. Mas as lembranças não morrem.
Sinto saudade. Uma saudade de momentos que vivi e que me fizeram tão bem.
Através desse texto quero prestar minha homenagem aos que levam no corpo as marcas do tempo, mas que nunca deixaram de construir à sua volta. Nunca esqueça que haverá sempre uma criança, um adolescente, um jovem, um adulto querendo ouvir suas histórias. Não dêem ouvidos a vozes que dizem que não há mais lugar pra vocês e que tudo em vocês é passado. Vocês são partes importantes de cada um de nós. Minha avó sempre dizia: Boi novo precisa andar de par com um boi velho. Precisamos das suas experiências para nos ajudar a controlar nossos impulsos da mocidade.
Continuem construindo, porque ainda não é tempo de parar. A estrada é longa, e há muita coisa por fazer. Precisamos de você, amigo e amigo da terceira idade.