QUE SENTENÇA O JUÍZ ME DARIA?

Apesar da noite mal dormida, amanheci bem disposta e com vontade de comemorar o dia do meu aniversário – se bem que a “festa” foi ontem, 21/04, por conta do feriado a exemplo do que acontece todos os anos - e resolvi ir tomar o “coca-café” da manhã com papai. (Coca-zero para mim e café para ele, claro).

Chovia forte, sobre a capital pernambucana, e, isso me fez desejar ir andando para sentir a chuva em meu rosto, lembrando o tempo de menina... Contudo, isso seria impossível, pois ainda não estou totalmente recuperada da torção no tornozelo.

Quando cheguei, papai me recebeu com a alegria de sempre, me “tascou” aquele abraço que, de tão apertado, tira o fôlego e dá raiva em todos nós seus filhos. (Rsrs) Levou-me para o melhor lugar da casa – a cozinha – aonde costumávamos conversar com mamãe.

Enquanto Nalva assava o nosso pãozinho, papai se desculpava por não ter vindo aqui em casa ontem. Nem escutou quando lhe disse que não havia tido festa e que o meu aniversário não era dia 21 e sim 22 - hoje. - E ele escutava?!

Fiquei a observá-lo com orgulho, carinho e admiração pelo homem simples, integro e inteligente; quando ele observou, dando risada, que quem gostava de festa era meu avô, seu pai. E contou que, certa ocasião, quando ainda era menino, vovô foi convidado para uma festa na cidadezinha que moravam.

Zé Lamour, um dos homens mais ricos da localidade, também havia sido convidado e, não sei por que cargas d’agua resolveu ir à festa levando, no bolso da calça, a quantia de vinte contos de réis – para a época, uma verdadeira fortuna!

Muita comida e principalmente muita bebida fez a festa se prolongar por horas a fio. No dia seguinte, Zé Lamour deu por falta dos seus vinte contos de réis e transtornado entrou com uma Ação contra o dono da festa, visando o ressarcimento de seu dinheiro.

O caso foi a júri popular e o tribunal naquele dia ficou repleto. O advogado de defesa argumentou que seu cliente não poderia ser responsabilizado pelo “desaparecimento” do dinheiro uma vez que, ficara tão bêbedo quanto o autor da Ação e demais convidados.

O juiz, perguntou quem não havia bebido na festa e o advogado respondeu que o único a não beber tinha sido o meu avô, pois este nunca bebera em sua vida.

O juiz, mais que depressa, ordenou que fossem chamá-lo. Quando vovô chegou, logo lhe perguntou como havia sido possível o dinheiro do Sr. Zé Lamour ter “desaparecido” em plena festa.

Meu avô então respondeu:

- Excelência, aonde há bebida, tudo é possível.

O Juiz pensou, pensou e resolveu determinar que, os "bebuns" da festa, todos presentes no Tribunal, dividissem o respectivo valor e ressarcissem ao Sr. Zé Lamour, imediatamente, sob pena de irem para o "xilindró”. E, assim, deu por encerrada a Audiência.

Despedi-me do meu pai e no caminho de volta para casa, cometi o delito de roubar flores de um jardim para me presentear. - Afinal, hoje não é meu aniversário?!

- Que sentença o tal Juiz me daria...? (Rsrs)

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Publicada também no " Apenas Ysolda"

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