Filho de peixe..... ostrinha é!

Depois de 4 anos sem voltar à terra natal, Maurício resolveu que precisava visitar o pai, mesmo eles nunca tendo se entendido bem. O pai, nordestino, conservador, sua água era de cana, e em seu cinto, uma peixeira era instrumento essencial! Maurício, era ator de teatro, havia saído de Uruculândia – sua cidade natal- aos 20 anos, e foi à cidade grande conquistar os palcos, bom, ele não conseguiu grandes espetáculos, mas as peças que fazia sempre lhe garantiam um dinheiro para suas diversões noturnas.

Quando Maurício chegou à pequena cidade, esta parou somente para olhá-lo descer á ladeira, e de longe seu pai já o aguardava na varanda de casa, sentado em um banquinho de madeira, e ao avistá-lo soltou um resmungado e disse: ”Mas que diacho, esse menino anda rebolando feito mulher!”. Pobre do pai de Maurício que aos 50 anos não esperava à surpresa que ia ter!

Ao entrar na casa, nada de muita hospitalidade afinal Maurício já sabia onde eram os cômodos! Não demorou muito e o pai começou a tocar no assunto, o temido assunto. “Meu filho, você já vai fazer 25 anos, e até hoje não se casou, você precisa de uma mulher para lhe fazer as serventias, para criar sua prole, e olha, a filha do coronel Benâncio, voltou de Fortaleza, ta estudada. Moça bonita, robusta, e solteira! Você devia ir lá, marcar o território!”. Maurício meio trêmulo, respondeu ao pai, já temendo sua reação:” Mas pai, acontece que eu não quero me casar, quero dedicar-me ferozmente ao teatro, e eu já estou dividindo um apartamento com uma pessoa que gosto muito!” O pai o indagou “Então você já se ‘ajuntou’ com uma moça da cidade grande, e não está casado! Filho meu não vive ‘ajuntado’ não, tem que ter um casório! Vamos começar os preparativos, mas qual é o nome da mulher?” Será que Maurício teria coragem suficiente para contar isso ao pai? Pois bem, teve! Coragem não faltou, e homem, filho de Cabra aperriado, também defende seus ideais. “Meu pai, ele se chama Rogério, e eu o amo muito!”

Bom essa conversa não teve continuação, o pai de Maurício saiu correndo atrás dele pelas ruas com a peixeira na mão e gritando “Filho meu não é viado não, volte aqui cabra da peste, vou lhe enfiar essa peixeira e puxar suas tripas tudo pra fora!”.

Com todo aquele nervosismo naquela correria, o pobre homem tropeçou em uma pedra e caiu de cabeça no chão, e quem foi socorrê-lo? Maurício, claro! Que também deu toda assistência no hospital. Mas ao acordar o pai continuava a resmungar e gritar: “Saia, saia daqui, você me envergonha, e quer me matar!” Maurício foi embora, muito triste por sinal.

A notícia virou primeira página no jornal local! Ninguém entendia o porquê da homofobia advinda do pai. E com o passar de uns 5 anos, o pai já se sentindo mais fraco e com o início de um enfermo hepático, fora até a cidade grande, procurar seu filho para lhe dar um abraço de despedida e pedir desculpas. Por mais que não era do jeito que ele queria. Era seu filho, e por mais que nunca tivessem se dado muito bem, era o único a quem podia recorrer.

Mas ao final das contas, não podemos achar que o pai de Maurício é um hipócrita, é só refletirmos na sociedade em que ele fora criado!

Gabriella Ribeiro
Enviado por Gabriella Ribeiro em 22/04/2009
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