Cachorrinho
O homem vai caminhando na calçada ao encontro da sua esposa, que por sua vez caminha em sentido inverso na mesma calçada...
A meio caminho entre os dois, uma moça nem tão moça, na verdade bem acima da balzaquiana idade, passeia seu cachorrinho cagão-de-calçada com o qual fala docemente enquanto espera e observa impassível a obra fedorenta que depois será devidamente pisada por mim, ou por ti, ou por nós.
Na medida em que a distância entre os conjuges diminui, o marido abre seu sorriso no que é correspondido pela esposa e pela dona do cachorrinho-mijão-de-calçada, achando que o homem sorria pra ela...
Enquanto amplia o sorriso, a pós balzaquiana repassa mentalmente todos os números dos telefones do cachorrinho porcalhão e se prepara para lançar seu irresistivel charme para derrubar o bonitão, já antevendo e se deleitando num deita-e-rola que lhe acabaria com as misérias acumuladas nos últimos tempos...
Colisão afinal! O casal se abraça e se beija quase atropelando a amarfanhada e desconcertada moça do cachorro defecador. Amarfanhada, desconcertada e frustrada, puxou furiosamente a trela do quadrúpede, nele descontando as raivas pelo programa perdido e humilhação achada!
Micos...Quem os não paga?