ENTRE AS NAMORADAS DA FILHA

ENTRE AS NAMORADAS DA FILHA

Marília L. Paixão

A mãe estava na lavanderia. Ia acionar o botão da máquina de lavar, mas lembrou-se do uniforme do filho. Foi até o quarto e lá estava o uniforme jogado na cama. Ia fechar a janela com suspeita de uma chuva quando ouviu as vozes do quarto da filha.

- Eu estou deixando você. Deixando. Deixando de vez!

- Deixa disto. Tudo por causa de um jogo.

- Jogo de indecências! Não um simples jogo.

- Mas eu quero ser uma jogadora profissional, você tem que entender.

- Mas você se comporta com o se já fosse. Nem se importa mais comigo.

- Deixa de ser exagerada! Você está incomodada com o sucesso do último jogo, isto sim!

- Mas antes, uma simples partida de tênis não te roubava de mim.

- Mas eu continuo aqui.

- Não continua não e largue essas meias e preste atenção em mim!

- Não grite! Mamãe está em casa.

- Eu vou sumir desta casa de uma vez!

- Deixa de exagero, mas a porta é ali.

- Você nem liga se eu for embora, liga?!

- Claro que eu ligo, mas se resolver ficar, eu deixo.

Você quer ficar?

- Eu não quero que você jogue mais com ela. E pare de não me levar a sério!

- Você precisa ler menos e praticar um pouco de esporte, sabia?! Pra que lhe serve tanta psicologia... Deixa disso e me ajude a dobrar as meias!

- Ela está te cantando não está?!

- Não. Não está.

- É você quem está cantando ela?

- Pirou?! Os livros estão te enlouquecendo. Você precisa sair mais de casa. Parar com este negócio de só querer ficar intelectualizada e depois morrer na praia.

- Mas eu gosto de ler.

- E eu gosto de jogar tênis.

- Mas está ou não está rolando alguma coisa entre você e aquela branquela?!

A mãe resolveu interferir. Saiu do quarto do filho e bateu na porta do quarto da filha.

- Tudo bem por ai?

- Sim mamãe! Estamos terminando de dobrar as meias.

Agora estava claro para ela que a moça que veio com um livro de poesias na noite passada seria a que passaria a freqüentar aquela casa. As duas se trancaram por horas. Disseram que estavam traduzindo Emily Dickinson. Depois a nova amiga esperou a novela das oito acabar para se mandar. O pai veio buscar. Nesta manhã ela tinha visto que o tal livro já era traduzido. Para o coração daquela mãe uma coisa era certa: Karine Louise breve não mais freqüentaria aquela casa e certamente iria enfiar mais ainda a cara nos livros de psicologia. E sua filha além de jogar tênis estava gostando era de ler poesias.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 22/04/2009
Reeditado em 24/08/2009
Código do texto: T1552825
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