PALÁCIO DA PENA

Sintra é uma cidadezinha de Portugal cheia de charme e atrativos, onde delícias da culinária como os "travesseiros da Periquita" e as "queijadas de Sintra", conhecidas em todo o mundo, fazem a festa gastronômica dos turistas e visitantes em geral. À parte essa característica peculiar, que leva tanta gente a não deixar a cidade sem antes degustar as citadas guloseimas deliciosas, quase como se fossem parte de um ritual importante, algo mais voltado ao prazer do espírito e da alma atrai multidões o ano todo: os castelos e os palácios recheados de histórias e fantasias. Dentre estes destaca-se, em magnitude e imponência, o Palácio da Pena.

Constava de nossos planos de viagem a Portugal fazer uma visita ao Palácio da Pena, pois, afirmavam todos, seria um passeio imprescindível para quem vai àquele lindo País. Já tínhamos lido bastante e visto fotos dele na internet, sabíamos muito a respeito e faltava, agora, vê-lo e tocá-lo. A idéia inicial tinha por base o aluguel de um carro para tornar o passeio até Sintra mais confortável e tranquilo. Infelizmente, porém, para dirigir por aquelas bandas eu precisaria portar carteira internacional de motorista, e as providências para obtê-la demorariam além do tempo que eu tinha antes de viajar. Como chegamos a Lisboa no sábado, dia 04/04/09, eu e minha esposa achamos por bem ir a Sintra no dia seguinte juntamente com o grupo de Natal que viajou conosco. Fizemos as reservas no ônibus da empresa ao entardecer daquele dia, tão-logo voltamos do city tour. Mas, no horário da saída, domingo, fomos avisados que o passeio tinha sido cancelado e não haveria mais o trajeto até o Palácio da Pena. Ficou tudo sem explicação plausível apesar das reclamações dos circunstantes. A decepção, claro, foi geral. E agora, como faríamos, então, para seguir o roteiro de passeios até o Palácio da Pena? Não poderíamos regressar ao Brasil sem visitá-lo, isso estava totalmente fora de cogitação. Fomos correndo atrás do prejuízo.

A recepção do hotel informou-nos que se desejávamos tanto conhecer Sintra e visitar as maravilhas de seus palácios e castelos, havia um ótimo meio de transporte ligando Lisboa àquela cidade, o comboio, saindo diariamente, de vinte em vinte minutos. Faríamos uma viagem rápida, segura e a preço bem convidativo. E nos passou todas as instruções para não haver equívocos, detalhando inclusive os pontos de referência num mapa do País.

O sistema metroviário de Lisboa é um dos mais perfeitos e funcionais de todos os que já conheci, se bem sejam poucos, em minhas viagens. Monumental e seguro, com o que há de melhor em tecnologia na área, apto para transportar centenas de pessoas para os pontos mais importantes da cidade e com uma rapidez impressionante, o Metro, como os lisboetas chamam, funciona tal qual um relógio suíço. Aliado a esse conveniente meio de transporte eficiente, as linhas de auto-carros, bondinhos e elétricos fazem do transporte urbano de lá, caso o turista não esteja num carro alugado ou não encontre táxi com a rapidez que deseja, a melhor maneira de cumprir seus compromissos em cima da hora.

Primeiro apanhamos um elétrico e fomos para estação Cais Sodré, onde entramos no descomunal universo metroviário. Lá, mesmo penetrando num mundo desconhecido onde centenas de pessoas com pressa corria para o trabalho, tomamos o metrô que seguiria para a estação Restauração, desceríamos e, daí, no mesmo local mas do outro lado, tornaríamos a entrar no metrô cujo destino era a estação Jardim Zoológico. Seria aí, então, onde embarcaríamos no comboio que fazia o trajeto para Sintra de vinte em vinte minutos.Um inesperado problema causado por informação truncada nos fez perder vinte e cinco minutos preciosos. O comboio partiria da estação Restauração, não daquela aonde chegamos em pouco tempo. O remédio era voltar por outra linha do metrô, e para isso teríamos de dar a volta até o outro lado, subir e descer escadas além de percorrer um longo corredor. Sim, e tornar a validar o cartão em um das dezenas de entradas do metrô. Assim fizemos, que remédio! Em pouco tempo estávamos de volta à estação Restauração e logo saltamos desabalados a fim de pegar o primeiro comboio que estivesse para partir. Não chegamos a tempo para isso, porém. O comboio lá estava mas já prestes a seguir para Sintra, ninguém mais podia entrar. Foi preciso esperar mais vinte minutos pelo próximo. decorrido o quê, enfim seguimos viagem. Quanta dificuldade enfrentamos!

Aprendi com a vivência a gostar da companhia de outros seres humanos e de ver estampado em seus rostos curtidos pela rotina cotidiana as marcas do tempo, da vida, dos sorrisos, das vicissitudes, do sofrimento e da felicidade. Penso ser impossível conhecer a alma das pessoas de outros Estados brasileiros ou de lugares diferentes em países estranhos se não compartilhar com elas um pouco de seu suor, riso e lágrimas. No metrô acompanhei o povo trabalhador, lado a lado, homens e mulheres, do menor ao mais alto escalão, bem vestido com seus trajes de grife ou modestamente trajado na simplicidade de suas condições, vivenciando o dia-a-dia de Lisboa. No meio deles, perscrutando suas expressões, vi-lhes o coração e a alma no mais forte pulsar. E no comboio igualmente. Aprendi mais sobre Portugal nos elétricos, no metrô e no comboio indo e vindo de Sintra do que participando do city tour e visitando os tradicionais pontos de turismo da capital.

Havia grande agenda a ser cumprida em Sintra, eu e Ana queríamos realmente obedecer todo o roteiro por nós traçado antes mesmo de pisar as terras lusas. Era questão de honra e vontade não retirar nem vírgula do compromisso assumido conosco mesmo. Um porém, no entanto, nos impulsionava mais ainda a não perder tempo em nenhuma ocasião: a amiga Lisa, do blog Momentos Meus, residente em Lisboa, a quem não conhecíamos pessoalmente, iria encontrar-se conosco no hotel por volta das dezoito horas. No dia anterior, o domingo, conversamos com ela por telefone e ficamos de nos encontrar no Shopping Colombo, mas o desencontro ocorreu e não foi possível. Depois de muita procura mútua( o shopping é gigantesco, um dos maiores da Europa, dizem) e, enfim, a desistência da amiga quando a hora avançou, tivemos a felicidade de conversar com ela por telefone e marcamos o encontro no hotel para o dia seguinte. Isto é, no exato dia de nosso passeio a Sintra. Urgia, por isso, ganhar tempo o máximo possível.

Passava das nove horas da manhã(cinco horas no Brasil) quando descemos em Sintra. Na estação avistamos enorme fila, perguntamos de que se tratava, percebemos não fazer parte do nosso roteiro e saímos a passos rápidos perguntando aos transeuntes como fazer para ir ao Palácio da Pena. A poucos metros dali existia um ponto de ônibus turístico que levava os visitantes até lá, disseram. Apressamo-nos naquele rumo, onde já outro amontoado de turistas de vários países tentava formar mais fila à espera do tal ônibus. A mistura de vários idiomas falados ao mesmo tempo provocava-nos a cômica sensação de estarmos perdidos no interior da Torre de Babel. Japoneses, chineses, turcos, alemães, americanos, austríacos, italianos e brasileiros, entre outros tantos mais, falávamos ao mesmo tempo fazendo nos tímpanos uma apoteótica sopa de linguagens. Eles, como nós, optaram pelo bater forte do coração em meio à população local, pela novidade de perguntar e sentir emoções novas. Não poderiam estar, naquele momento, confortavelmente sentados em onibus fretados seguindo tranquilos para o palácio, sem atropelos nem perda de tempo? É claro que sim, mas preferiram se emocionar, sentir o bater forte e descompassado do coração, fotografando locais e ângulos que jamais seriam vistos por turistas acomodados. Podem ter certeza de que aqueles estrangeiros denotavam ser gente endinheirada. Contudo, estavam lá, em plena rua de Sintra, aguardando o coletivo.

À chegade de um luxuoso e moderno ônibus, fomos entrando e pagando 4,50 euros cada(cerca de R$ 13,95) para ir até o Palácio da Pena e voltar. No interior do coletivo percebemos que ele era muito mais luxuoso e moderno do que pensávamos. Parecíamos estar dentro de um avião, tamanho o conforto sentido e a tecnologia exposta aos nossos olhos. Na mistura de idiomas, impossível de ser compreendido pelo motorista, o entendimento se fazia por mímica. Embarcados quantos cabiam para completar a lotação, saímos pelas ruas, vielas e becos de Sintra deixando a vista vagando por entre as imagens que iam passando à velocidade do ônibus.

Eu e Ana resolvemos ficar nas proximidades do Castelo dos Mouros, indo na direção de uma espécie de quiosque de razoáveis proporções onde, é evidente, já havia filas para a venda dos bilhetes de acesso ao Castelo. Conosco desceram outros turistas e depois o ônibus prosseguir a caminho do Palácio da Pena, cerca de trezentos metros ladeira acima. Chovia fino e o asfalto ficara molhado. A visita ao Castelo dos Mouros e ao Palácio da Pena, caso o interessado comprasse as duas entradas de uma vez, custava 13,00 euros(R$ 40,00 reais) por visitante; se resolvesse adquirir o bilhete separado ou quisesse conhecer somente um dos dois desembolsaria 11,00 euros( R$ 34,00 reais). Se bem nos arrependéssemos após "escalar" as simples ruínas sem muita graça do Castelo dos Mouros, que de interessante tinha somente sua altura incomum, de onde ganhamos uma vista muito bonita da cidade de Sintra e seus arredores, adquirimos o pacote completo.

Não existe praticamente nada para ver no Castelo dos Mouros, senão ruínas e escombros, dezenas e mais dezenas de degraus se desfazendo, subidas íngremes no barro seco, restos de nada e lembranças da história. Para chegar aos seus inúmeros recantos e desvãos, onde outrora havia aposentos por todos os lados, além disso, ainda é necessário ter um ótimo preparo físico, estar com o coração em dia e ter muita disposição para andar e andar bastante, sob pena de não atingir nem a metade do caminho. O ímpeto da caminhada, no entanto, vai despertando o turbilhão de adrenalina e nos torna capaz de seguir sempre na direção do ponto mais alto sem pensar nas consequencias físicas posteriores. Em alguns pontos, paramos tanto para respirar fundo como para apreciar as indescritíveis vistas com que nos deparávamos. E fotografar, perenizando o momento.

.......continua

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 22/04/2009
Reeditado em 22/04/2009
Código do texto: T1552476
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