OS HAIKAIS DO MILLOR E OS "MILLORZINHOS" DO HAIKAI
Amigos recantistas:
Na crônica “O Haikai, o Sumô e o Sushi”, postada por mim em 11/04/09 aqui no Recanto, falei sobre alguns aspectos importantes sobre os Haicais e suas soníferas regras.
Falei, também, sobre a importância de ter “esbarrado” com os Haicais indiscutíveis e geniais de Millor Fernandes e decidi compartilhar alguns deles com vocês.
Vamos a aula:
O pato, menina
É um animal
Com buzina
Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a lua.
A alegria
É toda feita
De melancolia
Pelo prado
Vai o touro
Aposentado
Não tem nexo
Tudo é apenas
Reflexo
O que me comove?
Pro sol
Não chove.
A esta hora
E o dia
Inda lá fora
É meu conforto
Da vida
Só me tiram morto
Meu sonho é mixo;
Ter a felicidade
Que os outros põem no lixo
A vida é bela
Basta saltar
Pela janela
Gostaram?
Eu também. Muitíssimo.
Nestes Haicais, a genialidade e o talento do inigualável escritor, estão a serviço da poesia, e movidos, ainda, pelo espírito irreverente que ele como bom carioca que é, carrega.
Haicais sempre bem humorados, criativos, inteligentíssimos e sem aquela “obediência” que o gênero obriga-nos.
O fato é que quando lemos essas pérolas, percebemos que as regras são sempre “perfeitamente inúteis” quando em contraste com a criatividade e a liberdade, poéticas ou não.
Regrar com tanta austeridade um poeta na sua essência, é como se eu pedisse a minha mãe, dona Hilda, que fosse fazer um daqueles bolos que a Ana Maria Braga ensina na tv e para isso colocasse o seu melhor vestido, um par de brincos de ouro e sapatos de grife. Assim como a Ana.
Não, é completamente inútil toda essa “parafernália”,
quando o segredo é a “mão do artista”, a quantidade de alma que ele empresta a sua arte, qualquer que seja ela.
A genialidade, enfim, vencendo a regra.
E foi com enorme satisfação, que ao visitar a página da ilustre professora Denise Servegnini, pude deparar com a esplêndida safra de poetas que vem lá pelas bandas do nosso querido Rio Grande do Sul.
“Os guris” da “tia” Denise deram verdadeira aula de poesia, de liberdade e de criatividade. Tudo isso dentro do mais puro e inimaginável limite.
Que maravilha de crianças aquelas!
Nomes comuns como João e José, inocência a flor da pele e uma estupenda simplicidade ao descrever com palavras uma imagem rotineira dos nossos entardeceres.
Ao brincar de fazer Haicais, os “miudinhos” poetas gaúchos deram um verdadeiro show de rebeldia, mas com seriedade, competência e acima de tudo, beleza.
Aquelas maravilhas estão disponíveis na página da professora Denise, cujo link abaixo transcrevo:
http://www.recantodasletras.com.br/haikais/1545154
Parabéns Denise por semear por estas terras aí, as flores incomparáveis da inspiração poética.
Não os corrija pelo amor de Deus.
A perfeição não exige maiores cuidados!
A todos eles, eu dedico o meu mais simples e sincero Haicai:
O poeta mirim
com a inocência sem fim,
é lágrima em mim!
Aplausos para a gurizada.
Do amador, amigo e fã incondicional de todos vocês.
Te cuida Millor!!!