COMER PINHÃO...É BÃO!

Aqui por São Paulo, pelos arredores da Serra da Mantiqueira, existem cidadezinhas deliciosas que sempre que posso, retorno para respirar seus ares de Mata Atlântica, cujo perfume é deliciosamente característico...e inconfundível.

Algumas delas fazem divisa com o sul de Minas, e outras tantas, não menos maravilhosas, já pertencem a outros Estados, como Itatiaia e Monte Verde, respectivamente pertencentes ao Rio e às Minas Gerais.

Campos do Jordão, aqui em São paulo, conhecida como a suiça brasileira, prima pelo clima incomparável, e pela beleza da biodiversidade de sua flora e fauna.

Quem ama a Natureza encontara ali um santuário ecológico.

Para se conhecer a sua intimidade, basta passear pela trilhas do Parque Estadual de Campos do Jordão, uma reserva da Mata Atlântica.

Lá existe uma série de caminhadas que nos colocam em contato com o verde original da Mata , com sua diversidade, e com suas belíssimas cachoeiras nela cravadas ,rodeadas por floresta de Araucária, que nessa época nos presenteia com a derrubada das pesadas pinhas repletas de sementes...os deliciosos e perfumados pinhões...que inundam a atmosfera da região.

A Araucária Augustifolia (mais conhecida como Pinheiro -do- Paraná), é uma conífera que consta na lista de extinção do Ibama, e que faz parte do bioma Da Mata Atlântica.

Originalmente cobria uma extenção de duzentos MIL quilômetros quadrados de terra principalmente pelo Sul do Brasil, e hoje ASSUSTADORA E INFELIZMENTE, perfaz apenas 0,4 por cento da sua dimensão original.

Ameaçada pelo desflorestamento, suas belíssimas árvores seculares, de ambos os generos, chegam a cinquenta metros de altura e se abrem ao céu feito taças, a feminina é mais aberta, duma elegância ímpar, atualmente a Araucária Augustifolia perde sua terra para o plantio de pinus, soja e eucaliptos.

Nessa época, ouvimos pela mata o maravilhoso espetáculo da queda das pinhas, que espocam entreabertas no solo, liberando suas sementes, única esperança ecológica de que se cravem na terra amparadas pelo ecossistema, que dissemina também através dos pássaros (Gralha Azul) o seu reflorestamento natural.

Tenho verdadeira paixão por essas árvores...e "paradoxalmente" pelos seus pinhões.

E certa vez, voltando das Araucárias para Sampa, parei na estrada para comprar pinhões, embora saiba que cada pinhão que degusto é uma árvore a menos no ecossistema.

Ali, fui envolvida por um "vozinho" bem simples, homem do campo, que me parecia viver do que angariava vendendo na estrada...o tal produto da época.

Parei o carro e ele carinhosamente me disse:

-Compra o saquinho dona, me ajuda, comer pinhão é bão!

O preço estava muito superior ao do supermercado, porém deduzi que pelo seu frescor e pelo trabalho na colheita, valia o meu investimento.

Afinal , eu tinha salivado por entre os pinhões fresquinhos da mata e não havia furtado "unzinho" sequer...(proibido por lei, ademais).

Cheguei a São Paulo e fui direto ao fogão, louca para ver aquelas sementinhas tenras na minha panela.

Podem acreditar: Estavam todas apodrecidas.

-Comer pinhão é bão...mas só os que acabaram de cair... no chão!

Foi o que eu disse, dia desses, ao mesmo "vozinho" que continua lá na estrada...quando novamente quis me passar o conto do seu pinhão...

Pinhões de velhas estações...