Salto Alto
Amo salto alto! Refiro-me especificamente ao sentido literal da palavra, sobretudo aos scarpins, salto agulha. Acho que alongam nossa silhueta e são um toque a mais na produção, especialmente porque nos obrigam a manter o equilíbrio e permanecermos elegantes quando nos sustentamos sobre eles. No sentido conotativo, abomino quem sobe no salto para olhar os outros como seres inferiores. Torna-se ridículo. Não possui jogo de cintura para se sustentar e age como se fosse superior aos outros, quer seja por ocupação de cargo hierárquico, quer seja por possuir alguma especialização a mais em seu currículo. Isso não engrandece a essência das pessoas. Sem dúvidas, é uma conquista pessoal, mas não torna ninguém melhor ou pior.
O que nos torna superiores ou inferiores é a maneira como tratamos nossos semelhantes. Olhar com desdém a quem pouco se conhece, subestimar suas competências e habilidades. Isso me faz lembrar de um email que recebi certa vez sobre uma ilustre personalidade que figura entre as mais ricas, poderosas e inteligentes do mundo: William Henry Gates, mais conhecido como Bill Gates - Dono da Microsoft - a mais conhecida empresa de software do mundo. Atualmente, pode se dar ao luxo de anunciar sua aposentadoria e retirou-se definitivamente da Microsoft para se dedicar inteiramente aos seus projectos filantrópicos. O texto que li sobre Gates, relatava uma de suas palestras pelas universidades... verídico ou não, seu conteúdo era muito interessante e, dentre as várias passagens, uma em particular me chamou a atenção; segundo o texto, Bill teria dito: "Trate muito bem aquele seu colega 'nerd'. Futuramente, há uma grande chance de você vir a trabalhar para ele."
Isso me faz pensar sobre a opinião auto-descritiva, pois segundo sua biografia, ele mesmo era tratado por um rótulo assim, entretanto, deu a volta por cima e um 'tapa-de-luva-de-pelica' a quem subestimava sua capacidade. O que torna sua personalidade fascinante, é o fato de ele não se julgar acima do bem ou do mal - é um ser humano como outro qualquer, que não deixou a fama e a fortuna subirem para a cabeça, e manteve-se - como diria a equipe do Programa Pânico na TV - calçando as sandálias da humildade.
Apesar de amar o salto agulha dos scarpins, também sou adepta das chamadas "rasteirinhas". São confortáveis e nos deixam mais à vontade, sugerindo um visual mais despojado. Tudo depende da ocasião. No contexto figurado, vejo as rasteririnhas como as chamadas sandálias da humildade, embora o nome pareça irônico - passar a "rasteira" é coisa de gente incompetente e mau caráter. A vida, por si só já nos obriga a manter o equilíbrio sem scarpins, sandálias, rasteirinhas ou até mesmo chinelos havaianas. Não é o hábito que faz o monge, como também não é a titulação acadêmica ou o cargo hierárquico que avaliam nossas competências. A verdadeira habilidade está em saber se equilibrar na corda bamba dos desafios e sobreviver às articulações políticas. podemos perder ou ganhar - e devemos estar preparados para tudo - mas não podemos perder nossa dignidade. Nesses casos, o salto alto é altamente recomendável - Perca ou ganhe - mas mantenha-se equilibrado e altivo!
*** Publicado em Seleta de Crônicas - Minha Rua, Minha Gente -
Edição Especial 2009 - CBJE