AS PESSOAS E OS PIT BULLS
Véspera de feriado. Dia de correr para o supermercado antes que a geladeira resolva pousar para Playboy ,de tão nua. Fila digna de véspera de feriado. Nada a fazer a não ser acionar o dispositivo que põe a paciência para funcionar. Paciência funcionando, é só ligar o piloto automático e deixar a fila andar sem maior estresse. Dá até para se distrair com algumas conversas que ficam pululando a sua volta.
- Gente mal humorada não devia sair de casa, não devia ter emprego e se tivesse, teria que você ficar trancafiada numa sala sozinha, sem contato com as outras pessoas.
Bobagem! Fiquei doidinha para me intrometer no momento filosófico das senhoras que estavam atrás de mim. Tive que enrijecer o pescoço e impedi-lo de virar-se para trás para dizer a elas que, infelizmente, uma pessoa mal humorada consegue fazer o ranço atravessar pelo fio do telefone ou por email e, estragar qualquer relação à quilômetros de distância.O negativismo tem asas, ou melhor, possui turbinas que o alastram com tamanha velocidade e potência que invariavelmente o resultado é catastrófico.
Quem já não sentiu o desprazer de topar com gente assim? Vai dizer que a desagradável experiência não está vivinha da silva até hoje em sua memória?
Volta e meia me pego recontando a história da noite em que sentei no táxi do motorista carrancudo. Só posso atribuir o azedume do senhor - ao qual não perguntei o nome - ao fato da corrida do aeroporto até a rodoviária ser curta demais. E ao esforço de locomover o carro àquela hora da noite, que não compensaria o pequeno ganho.
Só isto poderia justificar que, depois de ter rodado muito mais do que o necessário e ter esperado que eu mesma retirasse a mala do bagageiro, ele simplesmente saísse cantando pneus sem dizer qualquer palavrinha mágica: Obrigado! Boa Noite!
Me arrependo de não ter anotado a placa e perguntado-lhe o nome. Hoje estaria aqui escrevendo que, caso precisem de um taxi em Porto Alegre, não peguem o carro tal, com a placa tal, do motorista azedo de nome tal.
Tá certo que passava das onze e meia da noite, e o Grêmio acabara de se classificar para a Libertadores da América. Admito ser uma situação sui generis e até aceito também, que o cara do guichê da empresa de ônibus quisesse ouvir os comentários finais da gloriosa partida. O que não me conformo até hoje é de ter visto o ônibus que ia para o meu destino partir, sem que o funcionário insosso levantasse um dedo sequer - mesmo que fosse para colocá-lo na boca e assoviar - para trazê-lo de volta. Fazendo-me ter que esperar por duas horas, numa rodoviária moribunda para pegar o próximo.
Não tenham dúvida de que foguetes de indignação explodiram mais forte dentro de mim do que lá fora, no meio da torcida do grêmio. E se todo gremista que se preze nunca esqueceu este dia, eu também não!
Então - voltando à conversa das senhorinhas detrás de mim - para pessoas que vivem de mau humor.Que vivem explodindo o seu pavio atrofiado. Que estão constantemente fazendo desandar o dia dos outros que nada têm a ver com sua falta de habilidade de mexer com a vida, com os fantasmas que são uma assombração sua e de ninguém mais. Para as pessoas que não sabem o significado da gentileza, da simpatia, da prontidão e da educação...
Este tipo de pessoa me remete à solução criada pela lei que proibiu a circulação e a permanência em lugares públicos, de uma raça de cães ferozes, sem que estes usassem enforcador e focinheira.
Extremismo?Crueldade? Olhe pelo outro ângulo! Pense no risco que corremos diariamente, ao conviver - livremente - com os Pit Bulls de duas patas!