IMPUNIDADE

IMPUNIDADE

Diz o Aurélio sobre a palavra impune: “que escapou à punição”; saiu ileso de um crime que mereceria castigo; cometeu uma falta e não foi castigado pelo juiz, se fosse num jogo de futebol. Parece difícil de acreditar que um jogador que dê um carrinho no adversário e não receba, ao menos, um cartão amarelo e, no entanto é o que acontece, todos os dias, fora dos gramados, em todos os recantos do nosso país, mesmo os mais remotos.

Ouvimos, dia sim, dia não, notícias de embarcações que naufragaram no Rio Amazonas ou no rio Tapajós, sem salva-vidas suficiente e, cuja última vistoria da autoridade responsável, foi em 2005, ou anterior a isso. Eu já estive perto da confluência do rio Tapajós com o Amazonas. Paramos o barco que nos levou para ver o encontro das águas e ancoramos em uma ilha, onde havia praia fluvial, para nos refrescarmos do calor que fazia. Próximo da areia a água batia no tornozelo e não se sentia a correnteza. Procurei passar de uma praia para outra e, na hora em que a água chegou na altura acima da cintura, meus pés não tinham mais forças para me manter no mesmo lugar. Instintivamente, sem pensar, comecei a nadar... Aí a correnteza se fez sentir e me levou alguns metros, na direção contrária, e me apavorei. No mesmo momento o barqueiro percebeu o que eu fizera e entrou no rio, em meu socorro. Mais alto do que eu e com força de homem, me resgatou do desastre iminente. Saber nadar, não salva um náufrago de rio, a não ser no caso da menina que foi atropelada, esta semana, junto com o avô, e conseguiu se segurar na pilastra de uma ponte, até que o socorro chegasse.

A impunidade, nos desastres aéreos, causa também o relaxamento nas vistorias das aeronaves e na falta de critério nas escalas e horas extras permitidas aos pilotos. No momento em que ocorrem os sinistros, os jornais e os noticiários das TVs clamam por justiça. Nos meses subsequentes ainda se fala no assunto, de vez em quando e, só se volta a ele, quando outro desastre acontece.

Assim também é com as emergências dos hospitais, com as epidemias de dengue ou de cólera, ou de gripe asiática, ou de..... Poderia citar dezenas de episódios que se repetiram, apenas nos últimos anos.

Falando em fatos médicos, me lembrei das falsificações de remédios e na ausência dos mesmos, nos postos de saúde. A nossa vida não vale “dez réis de mel coado”, como diria a minha avó. Os infelizes, que não podem pagar um plano de saúde, mesmo os mais baratinhos, ficam à mercê das autoridades que gostam muito de aparecer nos telejornais convocando os médicos a exercerem seus juramentos de dedicação ao salvamento das vidas, mas se esquecem de retribuir, financeiramente, ao esforço deles, e pagam R$ 15,00 por consulta dada, onde o profissional sabe que nada poderá receitar; só disporá de alguns minutos, para olhar o paciente, que deve ter muita, mas muita paciência com a situação desesperadora e sem solução aparente.

A pior impunidade, no meu entender, chega, em cheio, aos políticos: vereadores, deputados estaduais, prefeitos, governadores, deputados federais, senadores e presidente da república com seus ministros. As diferentes pastas são cabides de empregos e currais eleitorais. Eles, são os verdadeiros donos do pedaço, ou seja do Brasil. Nós, “Zé Povinho”, a nossa sobrevivência e tudo mais, dependem total e exclusivamente do humor e da ambição da autoridade, a quem pedimos socorro naquela circunstância que nos tortura no momento. Seja ela, autoridade da Educação ou da Segurança, tudo com letra maiúscula; das Estradas ou dos Aeroportos. Até a Receita Federal nos faz vítimas indefesas. Eles nos cobram imposto de renda do nosso salário; daquilo que suamos arduamente, com esforço e luta, para conseguir primeiro, uma vaga de trabalhador e, depois, nos esforçando ao máximo, até fazendo concessões, para não perder, em pouco tempo, a vantagem do emprego.

O brasileiro tem vocação para “cachorro viralata”, como dizia Nelson Rodrigues. Temos complexo de inferioridade. Não. É mentira! Tudo isso é propaganda política, lavagem cerebral, mensagem subliminar para, melhor e mais fundo, nos atingirem. Vamos fazer um novo movimento, como os estudantes fizeram com as “Diretas Já”. Vamos quebrar a canga e proclamar novo “grito do Ipiranga”.

Sugiro um título para a campanha de agora: “INDEPENDÊNCIA, E MORTE À IMPUNIDADE. JUSTIÇA JÁ”.

Rio de Janeiro, 21 de Abril de 2009 – dia de Tiradentes.

Gilda Porto
Enviado por Gilda Porto em 21/04/2009
Código do texto: T1551422
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