Uma mulher notável
Edson Gonçalves Ferreira
Parece que foi Drummond quem disse, quando morreu Cacilda Becker: morreram Cacilda, referindo-se ao plural do trabalho da atriz e, hoje, parafraseando o poeta, digo que morreram Beatriz Ferreira Gontijo. Sim, porque Beatriz foi uma mulher plural. Se o poema de Adélia Prado: ¨Com licença poética¨ é famoso, falando sobre o desdobramento da mulher, Beatriz é digna desse louvor.
Conheci Beatriz quando ainda eu era menino. Meu pai freqüentava a casa de seu pai o famoso Chico Doido. Ali, podíamos ouvir boa música o que, sempre, foi um quesito primordial nas nossas famílias. As filhas de Chico e Anísia Gontijo: Beatriz, Arminda e Dalila sempre cultivaram o gosto pela música. E, nesse quesito, Beatriz reinava também, embora sua profissão fosse Assistente Social, a primeira assistente social formada de Divinópolis.
Quando comecei a trabalhar, pude reconhecer Beatriz Ferreira Gontijo mesmo. Ela fazia um trabalho primoroso no SESI, desenvolvendo o projeto “Operário Padrão” e, assim que ela, também, me reconheceu, passei a ser o seu secretário. Eu trabalhava na Companhia Siderúrgica Pains, hoje, Gerdau e ela também. Assim, nosso trabalho tinha uma ligação profunda.
Sempre alegre, franca, forte, Beatriz era luz na minha vida e, também, na vida de sua família tradicionalíssima. Recentemente, sua nora contou-me que, remexendo nos documentos que ela, Beatriz, deixou, encontraram poemas e mais poemas meus, autografados para ela. Eu me lembro e muito bem do sorriso de Beatriz que colecionava meus textos e até minhas assinaturas. Ela tinha um carinho especial por mim e eu por ela como, até hoje, tenho para com toda a sua família.
Artista, filha, irmã, esposa, mãe, memorialista, assistente social, Beatriz morreram semana passada. Ela morreram calada e só como o poeta Fernando Pessoa também dizia que queria morrer. Seu corpo foi cremado. Hoje, sozinho, diante da tela do computador, sinto falta das Beatrizes que conheci. Do cafezinho, todas as manhãs, nas velhas casas: dela e de seu pai. Das sessões de músicas no velho sobrado da Avenida Primeiro de Junho.
Costumo dizer que as grandes pessoas não morrem, porque se eternizaram na grandeza dos feitos. Assim, Beatriz Ferreira Gontijo não morreram, ela vivem na alma dos operários, dos artistas, das pessoas que a conheceram como uma mulher simples, mas com uma cultura vasta e amante desta cidade que é divina, porque nela existem e existiram pessoas como Beatriz Ferreira Gontijo. Saudades, amiga!
Divinópolis, 21.04.09