"MULHER ELETROCARDIOGRAMA "

Já ouvi “adjetivarem” a mulher de todas as maneiras, mas “mulher eletrocardiograma foi à primeira vez.

Estávamos, eu e Iracema, na lanchonete da faculdade aguardando o início da segunda prova da noite, quando um de nossos colegas se aproximou, sentou e quietinho ficou perdido em pensamentos.

Ora passava a mão nos cabelos, ora no rosto como se a enxugar um suor inexistente, uma lágrima que estivesse prestes a cair, uma mágoa...

Não me contive e lhe perguntei se podia ajudar de alguma forma e ele então respirou fundo e para minha surpresa disparou:

- Ysolda, como posso amar uma mulher eletrocardiograma?! Uma hora ela está de um jeito e um segundo depois, de outro...! - Sabe aquela maquininha do eletro?! - Ela é os ponteiros... Ô mulher doida, meu Deus!

Imagine você que na semana passada, ao deixá-la em seu local de trabalho, éramos todo amor... Ela até me colocou um pouco de seu perfume para que eu a sentisse perto de mim o dia inteiro!!!! - Como se fosse preciso!

Eu penso nela o dia inteiro desde que a conheci!! Faço tudo por ela!! Nunca lhe deixei faltar nada, nadinha messssmo, Ysolda!!! E agora ela não quer saber nem que eu existo?!!!!! - Que amor é esse que ela sente por mim?!!!!

- Eu já imaginando o “quanto” a esposa do meu amigo gostava dele, lhe pedi que fosse direto ao ponto, até porque já estava quase na hora da prova começar e ele estava muito transtornado.

Então contou que, naquele dia do perfume e tal, chegando a seu trabalho, uns dez minutos depois, ligou para ela cheinho de saudades, querendo manter o clima pelo menos até a noite, e, qual não foi sua surpresa, ela o tratou com uma frieza tão desconcertante que, desta feita, ele não agüentou e sucumbiu de desanimo e de uma profunda tristeza.

Para esquecer a revolta resolveu ir beber com os amigos no final da tarde, coisa que não fazia há muito tempo, até porque é de formação evangélica.

Ao voltar pra casa, um veículo avançando o sinal foi em cima dele e acabou com seu carro. Felizmente ninguém ficou ferido e o prejuízo, só dele.

A perícia foi chamada e quando chegou foi com o bafômetro, repórteres e cinegrafistas de televisão a tiracolos.

O motorista sóbrio, porém o causador do “estrago”, acompanhado de duas jovens “senhoras”, foi tranquilamente liberado. Já o nosso amigo, apesar de ter se submetido ao bafômetro com presteza, foi levado para a delegacia mais próxima.

Em sua casa a esposa o aguardava assistindo o jornal local, quando na tela da TV, ele apareceu com a boca no bafômetro, obviamente muito pouco a vontade e perto dele, de costas, as duas jovens “senhoras”.

A chamada da manchete dizia: “ESTUDANTE DE DIREITO, ALCOOLIZADO, EM COMPANHIA DE DUAS GAROTAS DE PROGRAMA, CAUSA ACIDENTE DE TRÂNSITO E ENGARRAFAMENTO EM HORÁRIO DE PIQUE.”

- Pronto, deu-se a desgraça!

Chegando à delegacia ligou pra, “jararaca” – eu quis dizer esposa – ela, ao atender ao telefone aos gritos, lhe disse para fazer bom proveito das novas “companhias”, da nova “moradia” e que fossem todos para os quintos dos infernos. E, ainda acrescentou que, ele nem pensasse voltar pra casa, pois lá não haveria mais lugar pra ele.

E, assim, há mais de uma semana, nosso amigo está sem mulher, sem casa, a pé e totalmente desmoralizado.

- É mole?!

Fiquei a refletir se eu deveria dizer a ele o que eu realmente pensava da “mulher eletrocardiograma” dele e do amor que ela dizia lhe devotar...

- Ô mulher devota meu Deus!!!! (Rsrs)

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Publicada também no "Apenas Ysolda"

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