Batmam & Robim X Pá-Tropi na Ponta Aguda!!!

Sabe como são aquelas conversas civilizadas que temos quando estamos em um grupo de desconhecidos, todos de bom nível cultural e principalmente em uma localidade em que poucos freqüentam e até posso dizer: lugares onde somente privilegiados conhecem sua existência. Os papos são sobre política, os mistérios da ciência, as grandes “cagadas” executadas por nossos gestores públicos e a omissão das empresas privadas, comidas de sabores inigualáveis e onde podemos degustá-las, projetos que solucionarão a vida do povo brasileiro... Nossa como somos tão inteligentes!

Na verdade o anfitrião da ocasião mandou logo:

- Quero ver quem realmente vai assumir algum compromisso? Aqui todos são cheios de idéias, vão logo colocando o “mico” sentado no ombro dos que já estão trabalhando, todos com idéias maravilhosas... Quero ver fazer algo de verdade, dar soluções viáveis e começar algo realizável. Eu estou aqui há quase duas décadas e tenho tentado realizar sonhos, aos poucos, com vagar!

Nesse momento novas pessoas surgem ampliando os debates, colocando novas visões de mundo... Cada qual com suas experiências de vida amplia e dirige as conversas ao sabor de seus pensamentos, acolhidos ou rechaçados conforme o apetite coletivo. Alguns dão suporte, mostram-se interessados pelas atividades humanas desenvolvidas, mesmo que intimamente não estejamos nem um pouco interessados em desenvolver tal ou qual atividade colocada pelos colegas de jornada... É a riqueza humana! Uns estão ali por interesses acadêmicos, outros praticando atividades físicas, caminhadas, escaladas... Até aqueles que comemoram uma nova conquista, querendo deixar sua marca na história do local!

- Que nome vamos dar a nova rota encontrada?

- Vocês foram pela passagem “noroeste”?

- Sim! Mas fizemos uma rota diferente, uma que jamais foi feita.

- eu quando passei por lá deixei um casaco meu preso no gancho, para poder visualizar a rota na volta, lá é muito perigoso!

- É... Nos vimos algo lá sim! Um casaco... Isso mesmo.

- Será? Eu o deixei lá a uns 10 anos, quando passei lá a primeira vez... Impressionante!

As piadas logo surgiram e eu fui logo dizendo que tínhamos que contratar o grupo para recolher amostras do tecido avistado e mandarmos para laboratório, de preferência entregar para o pessoal que examinou o “Santo Sudário”.

Existem ainda aqueles que somente utilizarão as facilidades da “pousada” ali encontrada, desde o banho de sol a beira da piscina natural até um bom cochilo na rede!

A tarde estava acabando e eu não tinha mais disposição para voltar caminhando para casa, havia algumas opções: Dormir no abrigo coletivo, o “refúgio”, pagar um quarto, o que não queria por razões financeiras, ou tentar voltar caminhando no escuro, o que seria uma tremenda estupidez! Mas apareceram outras opções: Uma carona para o lugarejo mais próximo – teria que tomar três conduções para voltar para casa – Uma carona para o meu município de origem – Está com certeza era a melhor opção, teria que tomar apenas uma condução para voltar para casa... Foi nesse momento que Batmam foi o super-herói da noite!

- Pode deixar que eu te levo até o seu distrito, de lá eu vou pra casa...

- Eu pago umas cervejas quando chegarmos no meu botequim de fé.

- Enquanto isso vamos tomar umas cervejas aqui mesmo.

- Demorou! Já vou pegar uma para começar os trabalhos.

Na verdade eu já estava tomando umas cervejas desde que cheguei, “morto” que estava pela caminhada até o topo daquela montanha. Cabe aqui ressaltar que não sou nenhum atleta, somente um cara teimoso mesmo, daqueles que não gostam de admitir uma derrota quando, mesmo a duras penas, pode superar o obstáculo e não deixar suas fraquezas transparentes. Quando surgiu uma saída como essa... Nossa como fiquei agradecido pela sorte que me sorria!

O problema é que eu não estava preparado para o frio que veio junto com a noite. Pior ainda é que nosso anfitrião colocou uma garrafa de cachaça, da melhor qualidade, assim diziam os que disso entendem, em cima da mesa... Gosto muito de degustar uma cerveja geladinha, mas cachaça não aguça o que de melhor posso oferecer a coletividade. Com certeza comecei a virar monstro!

Monstro é assim: Fala alto, abusa do uso de palavras de baixo calão, conta bravatas, repete os mesmos assuntos várias vezes... Envergonha a “firma” mesmo. Foi quando virei o Pá-Tropi... Contando casos de minha adolescência misturados com meu tempo de caserna! Insistindo que Robim participasse mais da conversa, coisa que não era lá muito de seu agrado, dando cortes na minha “cara sem sorte”... A que sempre me salva nessas horas, suas expressões já me dão conta do quanto estou fora do rumo, embora eu não me segure mesmo assim. Colocar a verdadeira grandeza do “mico” é algo que só os que assistiam a cena podem dizer, descrever.

A cachaça realmente me aqueceu, pois a conversa foi até a meia noite daquele dia, num frio danado... Sorte minha o anfitrião não ser agressivo e não me jogar montanha abaixo, mais ainda ter encontrado uma dupla de alpinistas generosos que nos trouxeram de volta pra casa!

Até quando vou ter que amanhecer jurando que nunca mais vou fazer uma coisa dessas... Que ressaca meus amigos! Pior ainda que ganhei um presente inesperado naquela noite: Uma gripe das boas! Não sei se batizo de “gripe Pedra Aguda”, “gripe Pierre” ou simplesmente “Gripe do Mico Agudo”!

Luiz Canelhas

luiz.canelhas@ymail.com

20/04/2009