A FARSA
JORNAL O POPULAR Nº 155 DATA 24 DE NOVEMBRODE 2001
COLUNA ESPAÇO ABERTO
A farsa
Um dia um amigo falou: “Universidades Americanas só servem para informar seus alunos, já Universidades Européias formam seres humanos”, era meu irmão. Ele falava de cátedra, pois havia estudado nas duas. Um dia, um sociólogo escreveu: quando em fins de 1890, o Brasil queria ser a França, nós geramos Machado de Assis, Santos Dumont, Monteiro Lobato, Villa Lobos e milhares de brasileiros geniais. Queríamos ser educados e falávamos garçom, réveillon, sonhávamos e inventávamos nossa música, nossa arte, nossa gente e criamos a Semana de Arte Moderna de 1922. Quando em fins de 1990, o Brasil queria "ter" os Estados Unidos da América do Norte como referência, o brasileiro deixou de se amar e pensa que somos pobres. Pensa que somos atrasados. Pensa que devemos. Pensa que estamos em guerra contra um cara que nunca ouvimos falar. Pensa que o que a televisão mostra através do que a CNN divulga é verdade. Pensa que o nosso dinheiro perde valor porque tem problemas da Indonésia estar devendo para eles, da Argentina estar devendo para eles, deles não conseguirem eleger seu presidente e ficarem dois meses recontando manualmente os votos de uma eleição fraudada. De eles entrarem em recessão econômica, pensa que os Estados Unidos têm todo o direito de entender mais de Foz do Iguaçu do que nós que aqui moramos, só para ferrar o turismo nosso, porque o deles nem de graça queremos. Eles estão conseguindo convencer sua própria população a engolir a farsa da guerra deles, não a nossa, porque a nossa farra é o carnaval. Pensa que falar inglês, ou seria americanês, seja “bonito”, pensa que "ter" um presidente bom lá fora é melhor do que "ser" um presidente bom aqui dentro, pensa que devemos vender tudo a qualquer preço porque é um bom negócio, pensa que querer "ter" as coisas mesmo não tendo dinheiro é o que importa, mesmo que suje o seu nome na praça, pensa que "ter" aparência seja importante, acha bonito ser papagaio de pirata e falar assim: "Você viu o que fulano tem, e daí nós inventamos o quê, nós geramos quem, quem faz o jeito de pensar brasileiro. Ah sim! Espera aí! Como seria fácil se o Brasil emitisse dólar para o mundo inteiro usar, e se não usassem, nós ameaçássemos porque teríamos as forças armadas mais temíveis do mundo, e nós inventássemos um negócio que controlasse todos os países que pegaram o nosso dólar sem fundo e mandássemos matar quem estivesse contra a paz mundial, mesmo que mais de 50% do planeta estivesse passando fome e morrendo à míngua, e daí sim nós poderíamos ter juros internos a 2% ao ano para que nossos empresários produzissem mais. Nós não aceitaríamos participar de modalidades esportivas em que o brasileiro não fosse o primeiro colocado, afinal isto faria mal a nosso ego, e nossa televisão desprezaria o evento, dizendo ser antibrasileiro. Enfim, todos os esportes em que fôssemos imbatíveis como no futebol de salão, peteca de Minas, peteca paulista. Peteca carioca ,então nem se fala, seriam modalidades olímpicas e inventaríamos várias modalidades individuais para ganharmos de preferência todas as medalhas olímpicas em disputa. Ia me esquecendo: “Quando um cara resolvesse ficar contra nós, nosso Brasil mandaria a ONU declarar guerra contra o cara ou onde quer que ele esteja, nem se fosse ao coitado do Afeganistão.