EXORCISANDO O PASSADO
A vida segue, a lua cheia vira minguante e às vezes as velhas coisas de todo dia ainda nos reservam surpresas. Aguardamos, vivendo a nossa vida, tudo flui e novas histórias parecem tomar forma no velho caldeirão efervescente ao fogo da vital essência. Nunca mais é coisa percebida a toda a hora quando alguém se vai pra não mais voltar, uma porta se fecha irremediavelmente, um elo se rompe , alguém parte para sempre. Dessa forma, é preciso deixar as bagagens da memória pelo caminho e abrir as janelas pra receber novas imagens e deixar os ventos do agora arejarem as salas, os quartos, a casa toda. Não há questões fechadas, verdades imutáveis, nem definições inflexíveis para o que somos ou pensamos ser. Enquanto a lua cheia vira minguante pela bilionésima vez, a nossa insignificância pretensiosa continua sendo o grãozinho a mais na engrenagem do Universo. Diante disso, o que são nossos anos de vida, o que são nossas memórias pessoais, nossas noites de insônia, nosso livro publicado, as contas, os desejos? Nada de barcos presos ao cais, nada de olhar e deixar voar. Um bater de asas contra o céu azul convida a fluir, a seguir em frente, e "qué tal nos pusieramos felizes sin nos preguntarmos por qué?"
É matar ou morrer, entre a cruz e a caldeirinha, situação limite? Sim, mas.... é preciso morrer lutando! Cada vez em que vejo outras mulheres como eu sentadinhas no sofá, diante da TV, com aquela postura de "empalhada", aperto o passo, respiro fundo e vou em frente à procura da minha turma, a dos que não querem terminar seus dias em um lento conta- gotas existencial, olhando o calendário.