A chuva que sabia demais/ Templo pluvioso
No começo havia o temor de que a chuva conhecesse as estradas e morros do mundo. O Criador admirava a chuva com seus estados e temia perder de vista o poder sobre ela. Foi em seguida da criação da “criatura homem” que ele começou a duvidar de todos os seus próprios componentes inventivos. Viu que a chuva enternecia as horas melancólicas do calor. Viu o quanto dentro de cada um havia um tempo pluvioso.
Sentiu que chuva resguardava sem critério sua identidade sempre oculta na transparência das intenções. Não havia como voltar atrás. As chuvaradas começaram então a criar sofrimento. Um sofrimento úmido, uma erosão, um desastre desabando sobre crianças, mulheres e até velhos como resultado de seu peso reunido. É a mania de limpeza, pensou o Criador. Mas e essa gente humilde toda sofrendo? Chamou então a chuva e começou a perceber a sua origem de lágrimas. O seu estado confuso, os seus ventos dilacerantes, a sua face serena de sereno ao cair da noite. Chamou então o sol e lhe deu uma tarefa: Manter os segredos da chuva sob o controle do dia.
Pelo sol a chuva então lhe disse: tenho parte com toda a vida na terra. Sem mim tudo secaria e viraria sertão. A chuva olhava para o criador com um certo ar de censura. O criador percebeu por ela que todos os estágios do tempo com suas estações eram bem maiores do que ele mesmo. Havia criado algo que ele mesmo não controlava. Agora era preciso suportar todas as variações climáticas sem interferências diretas. A chuva sabia que o Criador se dissipava nas gotas de suas próprias lágrimas.