ENCANTOS DA TERCEIRA IDADE

ENCANTOS DA TERCEIRA IDADE

Marília L. Paixão

Quem vive uma terceira idade deve morar numa cidade onde as coisas bonitas lhe convém. Não deve morar em morros de favelas, em ruas sem flores belas, sem carinho ou emoção. E se forem idosos bem sem cultura, que a terra lhe produza sonhos de algodão.

Que a terceira idade seja de reconhecimento por tudo que já viveram de trabalho, educação e posturas. Que não tenham lembranças de roubos, latrocínios, corrupção. Que possam contar de todos os feitos para os netos e outros afetos. Que as passagens mais tristes sejam as que a memória já esqueceu.

Acredito que os planos de saúde devem ter uma ilustração perfeita de um casal envelhecendo com paz e amor. Mas para onde caminharei com essa fábula de uma elite só? O que esconde os seres por trás das classes? Quais são seus mais íntimos anseios que nenhum plano de saúde abrange? O quanto se paga e o quanto se luta em vão por todos eles?

Observem lá no alto uma idosa tão magrinha com seu bule de café. Observe que ela canta como poderiam até cantar as idosas do mar morto de Jorge Amado. Mas ela não canta um canto triste. Ela apenas deixa os olhos cantarem enquanto se delicia com o café nem ralo e nem forte de sua mesa. Há uma paz diferente no canto dos seus olhos. Muitos diriam que um povo assim desistiu de sonhar.

Mas eu que imagino nela o espírito da negra Cristina que nem sei por onde anda, a vejo como a mais linda idosa. E não é que por minha mente passou um pensamento de por onde andará Cristina? Será que virou condessa? Ou será que está mesmo como aquela velha senhora respirando a paisagem feliz de ser quem ela é?

Como é que vamos saber o que a terceira idade esconde ou revela? As fotos são cândidas como se fossem de crianças e ninguém imagina uma velhinha sorrindo sendo tão má como um lobo, um terremoto, uma erosão. É que elas carregam a bondade no coração ou nos motivamos por perdoá-las de todos seus erros por serem nossas mães, nossos ramos e raízes; nossa árvore onde provamos dos frutos prediletos, que nos foram ofertados se não com o maior amor, mas com responsabilidade, dedicação e afeto.

Portanto venho terminar este curto ensaio a dizer que os encantos da terceira idade são os que neles vemos ou damos. São encantos que dependem da ternura do nosso olhar e da nossa boa vontade. Cada um é responsável pela foto dos idosos que possuem em casa. Tristes ou felizes, cansados ou descansados, encantadores ou sofredores. Felizes são os que têm tempo para cuidar do que sobrou. Mesmo que seja só uma lembrança.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 20/04/2009
Reeditado em 21/04/2009
Código do texto: T1549090
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