A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE
Em l981, eu fui aprovado num concurso federal. Tive boa classificação, mas ao ser convocado para trabalhar no INAMPS, recebi alguns conselhos do Chefe do Departamento de Pessoal, para não aceitar a admissão porque eu já estudava agronomia, e, segundo ele, seria melhor eu me dedicar mais ao meu curso. E me orientou para que eu pedisse o remanejamento para o final da classificação, pois no máximo em um ano ou dois eu seria convocado novamente. Pedi alguns dias para pensar, mas acabei aceitando a “proposta indecente” daquele diretor.
Acredito que, aquele cidadão queria ceder minha vaga para alguém que tivesse uma classificação menor que a minha. Infelizmente, na minha ingenuidade, eu preferi adiar o meu primeiro emprego.
Há momentos de hesitação na vida da gente em que tropeçamos, mas não são realmente prejuízos, são lições de vida para um amadurecimento, pois quando alguém nos fecha uma porta, Deus nos abre uma janela com uma luz brilhante, de um sol que só Ele poderia ter criado. E, como diz minha esposa, Walkíria, Deus escreve certo por linhas certas, a gente é que pensa que elas são tortas.
Um ano depois fui novamente convocado a trabalhar, desta vez na Escola Técnica Federal de Pernambuco. Por coincidência, a Chefe do Departamento de Pessoal da Escola veio com a mesma conversa do Diretor do INAMPS, e me aconselhou a, mais uma vez, pedir para ir para o final da classificação. Parece que os diretores, criados nas estufas da ditadura militar, tinham o mesmo pensamento: prejudicar quem quer que fosse para dar um jeito de beneficiar os seus protegidos.
Só que, desta vez, eu não engoli a conversa e disse: “eu quero o meu emprego agora, dê-me os papéis para eu assinar”. Foi a minha primeira vez. Trabalhar em um órgão público foi o que sempre desejei. Mesmo sendo a primeira vez, eu adorei!
Eu não poderia ter encontrado lugar melhor para trabalhar. Convivi durante sete anos com pessoas maravilhosas. Só na minha sala, a Coordenadoria de Registro Escolar – CRE, trabalhavam normalmente, vinte e seis colegas.
Na realidade eu não deveria fazer referência a nenhum deles, para não ser injusto com os demais, pois eu gostava de todos. No entanto, duas pessoas foram muito especiais para mim, naqueles sete anos de trabalho. A minha Chefe, Maria da Conceição Menezes do Rêgo (Cita), e o meu amigo, Pedro Paulo Aureliano. Com eles eu aprendi muito. Amadureci como ser humano e como cidadão.
Na confraternização de final de ano, em l987, resolvi fazer uma homenagem a todos, e escrevi, o que se poderia chamar de mini Cordel, tanto que nem o relacionei entre os meus cordéis publicados. Neste “cordel”, intitulado “A Grande Turma da CRE”, eu falei sobre cada um dos colegas, citando seus cacoetes, manias, forma de trabalhar e os bordões que cada um usava no dia a dia.
Foi muito interessante, nem eu acreditava que tivesse capacidade para escrever assim. Foi a partir desta brincadeira, que resolvi ser cordelista. Hoje, na minha modesta produção, tenho treze cordéis publicados, diversas poesias no estilo de cordel e alguns sonetos.
Não posso publicar aqui todas as glosas que fiz, pois não será interessante para quem não conviveu ou não conhece esses meus amigos, e também porque não sei onde se encontra, o que faz, e como vive cada um deles hoje. Mas, para homenageá-los, com muito carinho e mostrar que “a primeira vez a gente nunca esquece”, citarei a primeira e a última estrofe deste mini cordel.
A Grande Turma da CRE
Não é fácil de dizer
Mas vou tentar num cordel
Contar pra você saber
De um lugar que é quase um céu
Lá trabalho há quatro anos
Tive muitos desenganos
Mas tive alegrias até
Por isso sinto saudades
De todas as amizades
Da grande turma da CRE
Como eu falei de todos, de forma muito engraçada e às vezes debochada, é claro que receberia uma resposta à altura, até porque eram pessoas muito inteligentes e criativas, por isso encerrei a brincadeira com essa estrofe:
Depois disso que falei
Devo sofrer um castigo
Pois com certeza eu sei
O que vão fazer comigo
Porém para ficar quite
Eu deixo aqui um convite
Para quem souber rimar
Deixar de lado a censura
Pois defendo a abertura
E não vou me incomodar.