O amanhecer de quinta-feira - Um dia perfeito

    Após uma noitada bem light com os amigos, nada melhor que uma noite de sono curta para poder aproveitar o dia seguinte da melhor maneira possível. Acordei consideravelmente cedo, pelo menos para os meus padrões naturais. Levantei bem devagar, enquanto ainda me lembrava das boas ridadas da noite anterior. Um amigo bastou para relembrarmos bons e velhos tempos de uma adolescência agitada. Passei um tempo com meus cães antes de ir ao banheiro, e, depois de uma longa chuveirada, alguns telefonemas para definir o que iria ser feito naquele dia.
    A prova, uma prova qualquer que fosse impediu a visita programada por mim na casa de minha querida tia. Ali, desenhava-se um dos melhores dias da história dessa pobre alma: eu.
    Ao avistar a luz do dia, estranhei a claridade do sol, pois há muito não a via daquele jeito. Não pelo sol em si, mas sim, por minha falta de observação. Talvez devido ao meu sono contumaz. Passo em passo, fui até a padaria para comprar meu desjejum. Um bolo de limão e o jornal de domingo.
    Muitas eram as noticias ruins e entre elas, um ensaio fotográfico de Priscila, do BBB9. Fantástico, pensei sarcasticamente, claro. Um café bem forte acompanhado de uma laranjada, foram o suficiente para fazer descer suavemente o saboroso bolo. Devo ter passado a próxima hora lendo o referido jornal. Me atraiu muito a parte de comparações dos quadros de Jean Batiste Debret com o cenário do Rio contemporâneo.

Debret, Jean-Baptiste (1768-1848), pintor francês que esteve no Brasil com a Missão Artística Francesa, nasceu em Paris, a 18 de abril de 1768 e faleceu na mesma cidade a 11 de junho de 1848.

Iniciou sua vida profissional em Paris, sob a influência de Jacques-Louis David. Integrando a Missão chefiada por Lebreton, ficou no Brasil entre 1816 e 1831, dedicando-se à pintura e ao magistério artístico.

Em suas telas retratou não apenas a paisagem, mas sobretudo a sociedade brasileira, não esquecendo de destacar a forte presença dos escravos. Foi iniciativa sua a realização da primeira exposição de arte no país, em 1829.

DEBRET (Jean Baptiste), pintor e desenhista francês (Paris, 1768 – id., 1848), membro da missão de artistas franceses, solicitada por Dom João VI, que chegou ao Brasil em 1816. Foi nomeado professor de pintura histórica da Academia de Belas-Artes (1820). Regressando à França em 1831, publicou em Paris, de 1834 a 1839, Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, uma série de gravuras sobre aspectos, paisagens e costumes do Brasil, de valor fundamental para nossa história do começo do séc. XIX.

Fonte: Enciclopédia Koogan-Houaiss.

(Texto extraído do livro de Laudelino Freire:
"Um Século de Pintura")

     Foi, dentre todos os artistas franceses aquele que melhores e mais assinalados serviços prestou ao ensino da pintura, não só pelo grau de operosidade de que era dotado, como ainda porque, tendo sabido vencer os obstáculos por que passara e calcar os dissabores que sofrera, lhe foi dado aqui permanecer mais tempo que qualquer outro e formar discípulos continuadores de sua obra.

     Contra a ação de Henrique Silva, soube opor muita energia e autoridade, nunca tendo desanimado nas lutas em proveito do ensino, de que se tornara verdadeiro apóstolo.

     Quando, como regente, subiu D. Pedro ao governo, Debret lhe pedira, no que foi atendido, lhe concedesse um dos ateliês do edifício da academia, construído desde 1816, para nele executar uma grande tela, que representasse a solenidade da coroação imperial.

     Devido à oposição de Henrique, só no segundo semestre de 1823 é que lhe foram entregues as chaves do ateliê. Aí reuniu o mestre os seus primeiros discípulos, em número de oito, e atrás já referidos, aos quais lecionou pintura sem o menor ônus para o Estado.

     No ano seguinte, o imperador e seus ministros lhe visitaram o ateliê, de onde sairam bem impressionados com o desenvolvimento dos alunos. Tão grande foi essa impressão, afirmam os historiadores, que D. Pedro resolvera, desde então, instalar a Academia, o que só pôde realizar em 1826.

     Comemorando a inauguração dos cursos, realizou Debret a primeira exposição dos trabalhos dos seus discípulos, na qual figuraram os seguintes gêneros: paisagens, marinhas, animais, flores e frutos. Foi grande o sucesso da exposição, tendo sido o seu organizador e principal autor condecorado com o oficialato da Ordem de Cristo.

     Em conseqüência ainda da boa impressão de ela causou, o ministro S. Leopoldo, embora contrariando disposições do próprio regulamento, dispensou o aluno Araújo Porto-alegre da exigência de curso preparatório de desenho, tornando extensiva a vários alunos essa concessão. Desde então, o ensino de pintura se desenvolveu notavelmente, como se pôde verificar nas exposições realizadas em 1829 e 1830.

     Natural de Paris, nasceu Debret a 18 de abril de 1768 e faleceu a 28 de julho de 1848. Estudou na Academia de Belas Artes, tendo sido discípulo de Luís Davi, passando depois para a Escola de Pontes e Calçadas, de onde se transferiu para a Escola Politécnica, tudo na sua cidade natal.

     Estreou no Salão de 1798 com o quadro de figuras em tamanho natural - O General messênio Atistômeno liberto por uma moça -, conseguindo um primeiro segundo prêmio. Esse sucesso deu-lhe nomeada, passando a ser incumbido de trabalhos de ornamentação em edifícios públicos e particulares.

     Apenas chegado ao Brasil, começou a trabalhar com afinco: fez o Retrato de D. João 6º, de tamanho natural e em trajes majestáticos, e os de diversas pessoas da família real, pintando em grande tela o Desembarque no Rio de Janeiro, a 12 de novembro de 1817, da arquiduquesa Leopoldina, princesa real. Além deste aqui, deixou muitos outros quadros.

     Foi nomeado lente de pintura histórica da Academia, cargo que desempenhou até o dia de seu regresso à França, que ocorreu a 5 de julho de 1831.

     "Em meados de 1831, sentindo-se cansado de tantas lutas, adoentado e enfraquecido, farto de pelejar... e cônscio de que prestara ao Brasil os mais relevantes serviços pelo apostolado artístico exercido no Rio de Janeiro durante quinze anos, regressou à pátria."

("A Missão Artística de 1916, A. Taunay).  


   
Ouvindo uma boa música pude me arrumar para continuar meu dia na rua. Um passeio pela feira fez-me encontrar um amigo. Conversamos, reinteramos planos e fizemos novos. Ao andar pelas ruas, sentia que já fosse alguém muito conhecido e amado por todos. Eles pareciam me amar. Sem excessão, me cumprimentavam cortesmente.
    Após adquirir alguns filmes, outra de minhas paixões, sigo o caminho de volta para casa. Atravessei calmamente uma perigosa rodovia, e, ao olhar para trás por causa de um som estrondeante, parecia que meu dia terminaria ali mesmo. Vi um cãozinho ser atropelado.
    Amo os animais e tenho andado muito sensível quanto ao fato de ver o sofrimento deles. Por incrível que pareça, com muito mais frequência do que gostaria, tenho visto essas cenas diante de meus olhos. Ele não morreu, não sei se por sorte ou azar dele, mas sei que pelo meu desespero, ouvi seus urros de dor. Amotinando meus ouvidos. Pensei, porque estragar um dia tão perfeito desse jeito. Tenho que encontrar uma maneira de não pensar nisso. Andava cada vez mais rápido tentando focar minha mente em outras coisas. Coisas boas que já haviam acontecido até aquele momento. Mas não pude. Então me rendi. Segue minha linha de pensamentos:
    "Quantos outros animais estão nesse exato momento sendo mal-tratados pelo homem? Quantas mulheres estão sendo estupradas? Quantas crianças passam fome? Quantas guerras sendo travadas sem motivo, e que motivos justificariam uma guerra? Quantas são as injustiças causadas pelo próprio homem que não sabe liderar a si mesmo quanto mais seus semelhantes? Quantos assassinos estão à solta? Quantos inocentes estão presos? Quantos são torturados nesse momento por não se renderem ao sistema que os transforma em verdadeiros monstros? Por que tantas perguntas e nenhuma resposta?"
    Pode ser que esteja pensando como poderia eu descrever e continuar a escrever sobre um dia perfeito, sendo que não parece nele existir perfeição nenhuma? Ao me perguntar nessa bateria fulgurante de testes totalmente incompreensíveis, pude concluir que esse foi realmente um dia perfeito.
    Quando pensamos nas imperfeições que existem ao nosso redor, percebemos o quanto somos limitados. Mas não para nos inferiorizar. E, sim, maximizar. Pense no caso ocorrido essa semana no trêm do Rio, estação de madureira. Se fosse em outro país, ou até aqui mesmo, mas em outra época, o povo teria massacrado aqueles guardas. Houve uma época, em que a população tinha mais raça, não para provocar uma guerra, mas para evitar uma.
    Ao transformarmos nossa vida em algo semi-perfeito, ignoramos os fatos trágicos que estão em nosso redor. Nos tornando, assim, mais fracos e vulneráveis. Se nós nos confrontarmos com eles, já que, em sua maioria, são inevitáveis, aumentamos a probabilidade de resistirmos à sensibilidade vã e vencer, dessa forma, o obstáculo.
    Qual seria uma outra definição para perfeito?

     1. Acabado, rematado, completo.
  
     
    
3. Magistral.

4. Primoroso.
5. Gram. Diz-se do tempo dos verbos que exprime que no momento em que se passa já está completamente realizado o que o verbo significa.
6. Magistral, notável, destro.
7. Mús. Diz-se do acorde que é formado por três ou mais notas.
8. Mat. Diz-se do número que é igual à soma das suas partes alíquotas.
s. m.
9. O que é perfeito.

    Seria só isso? Ou seria a vitória sobre algo que antes parecia impossível de ser vencido? Mesmo que haja muita dor, algo pode ser perfeito? Ou só é perfeito se não houver dor?
    Há respostas?
    O que faz desse dia perfeito são suas imperfeições e como lidamos com elas. Se algumas perguntas permanecem sem respostas, é porque, simplesmente, ser perfeito, as vezes, envolve não ter respostas. Ou pelo menos não imediatamente.
    Alguém seria perfeito, se o conceito de perfeição fosse diferente? Talvez. Mas o que nos une é nossa imperfeição. Nossas fraquezas, nossa celulite ou extrema magreza; nossa calvice ou nossos corpos demasiadamente peludos; nossa cegueira, física ou espiritual; nossas dores ou nossa insensibilidade; a facilidade de se expressar ou apenas o nosso silêncio. 
    Antes de chamar um dia de péssimo dia, pergunte-se: "há alguma pergunta, hoje, que eu não tenha a resposta?"...
    Se a resposta for sim ou se não houver uma, prepare-se, você pode estar tendo um dia perfeito.

    Have a nice day...
...for you...
...for me...
...for us all...
...forever...


  





Prima
Enviado por Prima em 19/04/2009
Reeditado em 19/04/2009
Código do texto: T1548524
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.