UMA GARI DESTEMIDA
Praticamente, em toda grande cidade há sempre pessoas, cuja atividade é coletar produtos recicláveis dos mais variados tipos. Por exemplo, no bairro onde moro, deparo-me todos os dias com várias destas pessoas que, com coragem e disposição empurram seus respectivos carrinhos abarrotados de papelão, garrafas PET, pedaços de ferro etc. Para elas, devido a grande necessidade, o sufoco das suas vidas, não existe tempo bom ou ruim; faça chuva, faça sol, frio ou calor. Destemidamente, lá vão elas revirando as lixeiras dos prédios e, algumas vezes, coletando objetos nas ruas e avenidas.
Dessa categoria de pessoas que sempre vejo há uma que chama a atenção dos moradores da zona leste de São Paulo, mais precisamente, na Cidade Tiradentes que pertence ao bairro de Guaianases: estou me referindo a uma mulher, que aparenta ter 40 anos de idade que sempre faz a sua coleta cotidiana sempre acompanhada de uma matilha, o que chama a atenção de muita gente. São cães obedientes, dóceis, inofensivos. Ela estampa no semblante sempre suado um ar de uma guerreira sempre bem disposta e incansável até. Pois passa pelas mesmas ruas até duas vezes, diariamente, se possível for.
Tanto esforço assim só poderia mesmo ser bem recompensado, pois, segundo se tem conhecimento, essa mesma coletora de produtos recicláveis é proprietária de uma boa casa e nela mora com certo conforto, tendo, além disso, a eterna e barulhenta companhia de seus vários cães. Agora, um detalhe também importante: quando ela resolve tirar um lazer e vai passear num final de semana qualquer, ao passar por aquelas ruas onde costuma fazer o seu serviço, quase ninguém a reconhece. Pois ela sabe se produzir bem e chama a atenção de qualquer pessoa, principalmente os homens, óbvio. Mas a sua vida particular só a ela pertence. O certo é que ninguém nunca a viu acompanhada por quem quer que seja. Ela pode até ser uma mulher solitária, mas demonstra muito ser feliz, o que é muito importante. E essa sua metamorfose, isto é, de coletora de produtos recicláveis para uma mulher comum e produzida só vem ratificar o que reza o que alguém já afirmou com bastante propriedade: "Não existe mulher feia, mas mulher mal vestida!"
João Bosco de Andrade Araújo
www.joboscan.net