A PORTA AO LADO
                                   
 
         Depois de uma noite de pesadelos acordo aliviada por não estar mais sonhando, ainda estranhando a sucessão de sonhos iguais e insistentes, ultimamente.
         Preparo pouquinha água para ferver logo, e passar o café e tomá-lo, para sentir a realidade da vida, ombros ainda doendo da noite cansativa e...
...me quedo a pensar no Edvaldo, no seu silêncio e ausência...
          Meu Deus será que ficou doente? Enquanto o sabor do café vai me trazendo à vida penso em lhe telefonar. Mas primeiro uma olhadinha no computador.
          Pra minha surpresa: uma mensagem dele no e-mail e que não consigo abrir. Martírio.

         Edvaldo é uma pessoa especial de muitos modos. Primeiro o amo. Confio. Está batendo saudade e vontade de chorar.
         Porque pensei nele no café rolando pela garganta? Cotovelo esquerdo apoiado na mesa com a mão na testa e a outra parada sobre o mouse, incapaz de escrever ou qualquer outra coisa, pois que urge chorar, chorar, soluçar por tantos anos de nada... , de nada...
          Conhecemo-nos na faculdade nos nossos vinte anos. Ele era colega e “um mosquitinho elétrico”, ou seja, inteligente demais, amigo demais, risonho demais e amigo demais do meu irmão também, e os dois eram inseparáveis, faziam engenharia elétrica e eu civil. Morávamos juntos, mas a amizade dos dois me deixava de lado, então eu os deixava e me ligava em outro maior amigo que era o Fecundo. Este, um dia antes de se casar, bateu à porta do meu apartamento e quando abro a porta, ele me abraça apertado pra nunca mais, sem nada dizer e vai embora, como nos filmes. Mas aquilo era vida, meu Deus!
O Edvaldo nunca me deu um abraço destes, mas sempre me senti e me sinto unida a ele. Não paro de chorar... Os anos passaram... Estão passando, nem amizade, papo, vida... E nós dois vamos morrer também pra nunca mais. Estou me acalmando, parando com este choro de quê?
De nunca mais, nem de sempre. Nunca houve nada entre nós. Todas as pessoas bonitas da minha vida já morreram ou estão morrendo, só sobrevivem “os carnes de pescoço”.
         Não sei por que gosto tanto dele. Ele me desviou da felicidade.