O ESPELHO QUE FAZ VISITAS
O ESPELHO QUE FAZ VISITAS
Marília L. Paixão
A manhã mal tinha começado quando ouvi uma batida na porta.
Brincadeira! Ninguém visita ninguém nesta hora.
- Quem é?
- É o espelho!
- Pode ir embora que não deixarei você entrar. Onde já se viu novos ladrões se fantasiarem de espelho.
- Pode olhar pelo olho mágico e verá que eu sou só um espelho. Você não pode ficar carregando o peso do mundo em ti. Você de tanto ler seu texto da chuva está achando que a chuva é você só vendo as coisas sem poder nada fazer. Você pode se olhar no espelho sem problema algum. Há muita beleza em você.
- Você por acaso é o espelho da auto-ajuda?
- Não! Sou daqui de perto mesmo. Um espelho comum destes de dentro de casa.
Como se não existisse mais medo de nada sequer do mundo lá fora resolvi abrir a porta.
Um espelho de quase dois metros de altura entrou lentamente como se estivesse sendo arrastado. Fui olhar atrás do espelho e dou de cara com uma criaturinha super cansada.
- Dagger Lor! Para que tudo isto?
- Para você saber que eu vejo flores em você. E se você se olhar num espelho bem grande, você verá flores também. Podemos trocar todos os espelhos da casa. E se o próximo tema for espelho eu quero estar junto.
Por dentro não sabia se disfarçava do espelho a emoção do bem estar que Dagger me trazia ou se disfarçava dele mesmo ao balbuciar:
- São meias! O próximo tema é uma gaveta cheia de meias Dagger!
- Então vai ser fácil! Aqui em casa tem muitas gavetas e a de meias é a sua favorita.
- Nada nesta vida é fácil, Dagger.
- Nada,nada, nada?
- Nada, nada, nada!
- Nem as amizades?
- A verdadeira amizade é mais difícil ainda.