o vento da madrugada

Medo. Janelas com grades, portas com trancas reforçadas... medo. Sair à noite para ir a uma festa nem pensar. O coração apertado, a respiração ofegante, eu quase não consigo me lembrar de com era antes. Então é nisso que se transformou a nossa vida?

Há muito tempo já perdemos a vontade dizer basta. Já dissemos isso tantas vezes e a mesma palavra repetida tanto assim causa um efeito anestésico que nos faz mais mal do que senão dissemos nada. Perdemos o direito de ir e vir e não vejo ninguém se queixando de nenhuma ditadura.

Os anos de chumbo são hoje!

Só me resta a saudade do tempo em que eu conhecia a madrugada e sentia o seu vento frio no rosto e as alegrias e decepções não precisavam conviver com adrenalina nas alturas. Saudade, apenas isso, penso num tempo que não deve mais voltar.

Um grupo diz que o governo deveria construir mais cadeias, outro que deveria construir mais escolas, pois eu acho mesmo é que deveria construir as duas coisas. Chega de discussões vazias. As pessoas precisam tanto de cadeia quanto de escola e de preferência que se bote as desonestas na primeira e as honestas na segunda, como deveria ser natural.

As pessoas também precisam se lembrar de como era o vento da madrugada. Sem adrenalina, sem sobre saltos, apenas o vento.