Você não será você para sempre...

Depois de ler a crônica “Entre o você e o senhor”, de José Cláudio, aqui no Recanto das Letras, em que ele fala da sua insatisfação ao ser chamado de “Senhor”, embora jovial e lépido na faixa dos quarenta... eu, que já ando bem lá pra frente, fiquei aqui me lembrando de como foi para mim essa passagem. A vida não perdoa, aconteceu muuuiito antes do esperado!

Não porque eu tivesse cabelos brancos fora de época. Nem por causa de rugas precoces em meu rostinho juvenil. Nada disso. Foi porque comecei a dar aulas aos vinte e poucos, ainda universitária. Diretores, funcionários e alunos do colégio dirigiam-se a todos os professores respeitosamente. Bons tempos aqueles. Ainda não era moda dizer Tia, felizmente.

O inverso, porém, aconteceu mais tarde. No Liceu Francês – bilíngue - virei Madame Cruz, mas como lá eu ensinava o português, nenhum aluno me chamava de “ vous”, evidentemente, pois falávamos a nossa língua. Esse tratamento ficava para os franceses. Eu era você mesmo. Com o decorrer do tempo, os próprios jovens dispensaram o “monsieur” e “madame” dos mestres brasileiros. Passei a ser, para eles, apenas Beatriz. E é assim que me chamam até hoje, quando nos encontramos.

De qualquer modo, ser chamado de senhor - ou senhora – em primeiro lugar, indica respeito. Só depois é que faz referência à idade. Aceitar isso é mais fácil para as mulheres do que para os homens. Parece paradoxo, pois são elas (são mesmo?) mais vaidosas, mais orgulhosas, querendo preservar e apresentar para sempre o frescor da juventude. Entretanto, em algumas circunstâncias, o tratamento “você” pode ser inconveniente.

Quando eu estava lá pela idade do José Cláudio, comecei a ficar chocada ao ser tratada de você por pessoas com as quais eu não queria nenhum tipo de aproximação, muito menos intimidade: encanadores ou eletricistas que vinham fazer algum serviço em minha casa, caixeiros de padarias, feirantes engraçadinhos, frentistas nos postos de gasolina...

Não era mesmo para achar esquisito? Esses, eu queria que me chamassem de senhora!

* Recomendo a leitura da citada crônica do José Cláudio.