A SOLIDÃO DOS IMPERADORES
Nos últimos dias, brasileiros e italianos mais particularmente, e também o resto do mundo futebolístico, tem discutido com muito interesse o caso do jogador de futebol, Adriano, chamado pelos segundos, O Imperador.
Adriano, após disputar uma partida defendendo a Seleção Brasileira nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, sumiu por vários dias, não retornando ao seu clube na Itália, a Inter de Milão, dando margem para a difusão de diversas notícias as mais espetaculosas possíveis, tais como a que ele havia sido sequestrado; que ele estava refugiado em uma favela carioca enchendo a cara com bebidas, drogas e refestelando-se com mulheres; que havia sido morto por traficantes, etc.
Passados alguns dias, Adriano aparece e dá a sua versão para o caso, afirmando que estava em uma favela sim, na Vila Cruzeiro, aquela na qual nasceu e cresceu jogando bola e empinando pipas com seus amigos, e que estava em um exílio voluntário, à procura da paz perdida, tentando reencontrar em suas origens no seio da comunidade que sempre o acolheu desinteressadamente, a tranquilidade e a vontade de viver para fazer aquilo que mais sabe e gosta, que é jogar futebol.
Afirmou ainda que se sentia muito só na Itália, e que não tinha mais estímulo para jogar, tendo perdido o prazer pelo seu trabalho, e que assumiria toda e qualquer responsabilidade por esse seu ato, inclusive perdendo milhões de Euros em contratos e multas rescisórias, mas iria parar de jogar por tempo indeterminado!
Para falar um pouco sobre a solidão de Adriano, o nosso Imperador Milanês, que não proclamou o Edito de Milão, mas o da Favela da Vila Cruzeiro, tomo a liberdade de citar alguns impérios e imperadores que fizeram a história mundial, e que de alguma forma fazem uma conexão psicossocial com o nosso caso em discussão.
Antes porém, permitam-me citar parte de um texto atribuído a Karl Marx: ¨A primeira condição de preservação da Velha China era seu total isolamento. Uma vez que a Inglaterra deu fim brutal a esse isolamento, a decomposição sobrevirá com a mesma inexorabilidade de uma múmia retirada do hermético sarcófago em que estava preservada, e exposta ao ar livre¨ ¹.
Percebam que a condição é estar hermeticamente fechado, isolado, sem vulnerabilidades, e isso vai totalmente de encontro à idéia de Império, que para ser império carece de expansão, domínio, vilania etc. Vai também de encontro ao status de Imperador, que ao ostentá-lo, o ser humano incita os mais diversos sentimentos, que passando pela idolatria e a devoção, vão facilmente à inveja, ao ódio e à vingança.
Tivemos Impérios espetaculares, dentre eles, o Império Romano, que para nós é o mais conhecido. Octávio Augustus foi o primeiro imperador romano, e que para poder sustentar-se no cargo, instituiu a Política do Pão e Circo para amainar os espíritos das turbas romanas que sem empregos e nem recursos, invadiam as grandes cidades em busca de meios de sobrevivência.
Também fazem parte desse rol Tibério; Nero, a quem foi atribuído um grande incêndio em Roma; Calígula (Gaius Caesar Germanicus), considerado o mais devasso dos imperadores romanos, que por desconfiar de tudo e de todos ficou famoso também por nomear como Senador Romano o seu cavalo predileto, Incitatus; Marco Aurélio; Adriano (Publio Aelio), culto, amante das artes e do Direito. Facilitou o acesso ao direito de cidadania e garantiu a liberdade religiosa; Comodus; Teodósio, que em meio à crise do Império Romano dividiu-o em Império do Ocidente e Império do Oriente; Diocleciano; Justiniano e Constantino, que consolidaram o Império Romano no Oriente, conhecido depois como Império Bizantino, que propagou os ideais cristãos pelo Oriente .
O Império Otomano, representando os muçulmanos, tendo como fundador Osman, seguido por Mehmet e Sulayman.
O Império Tártaro, depois denominado pelos chineses como Império Mongol, pois era formado pelos povos da Mongólia, teve como seu imperador maior, Temudjin, hoje conhecido por todos como Gengis Khan, também traído em sua infância pelos meio-irmãos.
E como não poderia deixar de citar, tivemos também o nosso Império Tupiniquim, representado por D. Pedro I e D. Pedro II.
Todos os impérios que conhecemos, ruíram! E ruíram porque sempre tiveram seus fundamentos baseados na opressão e no materialismo.
Os impérios que conhecemos hoje, também estão ruindo, estes, muito mais, porque são baseados em conquistas fictícias conhecidas como Virtuais. Nada existe. Basta um boato e o império vai à banca rota!
Os ¨conquistadores¨ expandem as suas fronteiras territoriais e os recursos materiais, esquecendo-se de preservar, manter e proteger as suas origens, as suas raízes, e quando dão por si, já não são de lá, nem de cá! Estão cercados por pessoas interesseiras, que não nutrem por eles os verdadeiros sentimentos de amor e amizade,e que não hesitarão em traí-los na primeira oportunidade que tiverem. E isso, guardadas as devidas proporções, é o que acontece com os novos ¨Imperadores¨! Diante da crise de identidade, sentem-se sós, desmoronam, e muitas vezes enveredam por caminhos sem volta.
Fico alegre e apoio a atitude do nosso ¨Imperador Adriano¨. Ele tem todo o direito de parar, olhar para dentro de si e perguntar: é isso que eu quero para mim? Eu estou feliz assim? Aonde essa vida me levará?
Feliz do homem que tem coragem, e ainda a tempo, consegue reorganizar a sua vida, mesmo que para isso tenha de abrir mão de coisas que ele julgava serem as mais importantes! Quem de nós muitas vezes não se sentiu perdido, necessitando de um tempo para repensar a vida?
Deixemos Adriano em paz, deixemos que ele encontre a sua paz!
(¹) Citação extraída da página educaterra.terra.com,br, História (Voltaire Schilling).